quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A relação entre os Engenheiros do Hawaii e o filósofo Albert Camus na música "Nossas Vidas"

Algumas características e influências da banda

Formada em 1984, em Porto Alegre, a banda Engenheiros do Hawaii é uma das maiores bandas de rock do país. Seu fundador e líder, Humberto Gessinger, sempre foi um assíduo leitor de literatura e filosofia, e isso reflete em suas músicas desde o início da carreira.  

Muitas letras do grupo são consideradas complexas por conta de alguns fatores: os constantes jogos de palavras, geralmente paronomásias (palavras de sons semelhantes) e antíteses (ideias contrárias), assonâncias (uso seguido das mesmas vogais) e aliterações (utilização das mesmas consoantes), além de citações implícitas e explícitas de autores (das mais diversas áreas do saber), que denotam as influências dos músicos.

Quem não está acostumado à leitura e à reflexão, na maioria das vezes, imagina que as letras não possuem nexo ou que ele, ouvinte, não consegue achar o sentido das músicas. Por outro lado, quem está mais familiarizado com os temas que a banda discute, logo percebe as influências e os conceitos adotados nas canções.

Uma das leituras preferidas de Humberto Gessinger, ainda durante o curso de Arquitetura (o nome da banda é uma gozação dos alunos de Arquitetura sobre os estudantes de Engenharia), são as obras do escritor e filósofo Albert Camus. No livro Infinita Highway: Uma carona com os Engenheiros do Hawaii (2016), biografia da banda que conta a história do grupo desde o início até o rompimento da formação clássica, conhecida como “GLM” (Gessinger, Licks e Maltz), em 1993, é dito num trecho sobre o segundo álbum do grupo, A revolta dos Dândis:

Gessinger já havia lido O Estrangeiro e A Peste na adolescência, em edições do Círculo do Livro, do qual era sócio. A oportunidade de se adensar na obra de Camus veio com as primeiras idas com sua banda para São Paulo.
- Eu não freqüentava a noite quando viajava, mas ia a todas as lojas de discos e livros que conseguia – recorda o pouco social Gessinger. – Em São Paulo, comprei a coleção completa do Camus, em uma edição portuguesa horrível. Era preciso cortar as páginas para folhear. Mas fiquei fascinado por ele.
A demo do álbum já estava pronta quando Gessinger leu a “A revolta dos dândis”, capítulo de O Homem Revoltado.
- Lembro que quando eu li, fui lá na casa do Maltz e disse: “Bá, velho, o disco tem que se chamar A Revolta dos Dândis” – relembra Gessinger, em bom porto-alegrês. (LUCCHESE, 2016, p. 186-187)

Sobre a música que dá nome ao segundo álbum, conhecemo-la com os versos “Eu me sinto um estrangeiro / Passageiro de algum trem / Que não passa por aí / Que não passa de ilusão”, no entanto, o biógrafo diz que

(...) O nome original da canção era Facel Vega, referência ao modelo do carro no qual estava o escritor Albert Camus quando sofreu o acidente que lhe tiraria a vida, em uma viagem de Provence a Paris – no bolso do escritor francês, restou o bilhete de trem que Camus já havia comprado para fazer o trajeto, mas resolveu não usar, pois aceitou de última hora uma carona do seu editor. A canção tinha originalmente os versos “Eu me sinto um estrangeiro / personagem de Camus”, uma óbvia alusão ao romance O Estrangeiro (...) (LUCCHESE, 2016, p. 186).

Pensando em todo este fascínio que o grupo possuía pelo escritor e pela sua filosofia, buscaremos discutir e compreender um pouco mais profundamente a música Nossas Vidas, contida no primeiro álbum da banda, Longe Demais das Capitais, lançado em 1986. A seguir, para acompanhar a análise e discussão, encontra-se a letra da canção na íntegra. Depois, para cada tema será iniciado um sub-capítulo.

Nossas vidas

A gente faz de tudo
Mas nada faz sentido
Nem as luzes da cidade
Nem o escuro de um abrigo

A gente faz de tudo
Mas nada faz sentido
Nem a existência de uma guerra
Nem a violência do inimigo

Não posso entender o que fizeram com nossas vidas
Não posso entender por que viramos suicidas
Oh! Oh! "O que fizeram com nossas vidas?"
Oh! Oh! "Por que viramos suicidas?"

Eu ando tão vazio, tão cheio de vícios
E o fim da linha, é só o início
De uma nova linha, de um novo mundo
De um dia-a-dia cada vez mais absurdo

Eu já pensei em mandar tudo pro espaço
Eu já pensei em mandar tudo pro inferno
Mas não pensei que fosse tão difícil
Ficar sozinho numa noite de inverno

Não posso entender o que fizeram com nossas vidas
Não posso entender por que viramos suicidas
Oh! Oh! "O que fizeram com nossas vidas?"
Oh! Oh! "Por que viramos suicidas?"

A gente faz de tudo
Mas nada faz sentido.


A consciência de um mal-estar

Na primeira estrofe, quanto à estética, logo percebemos uma das características da banda: o uso de antíteses. Ela aparece com as palavras “tudo”, “nada”, “luzes”, “escuro” (num sentido amplo, poderíamos considerar “cidade” e “abrigo” também).

Já sobre o conteúdo, notamos uma consciência do eu-lírico sobre a inutilidade das nossas ações. Podemos pensar que as elas têm sentido para nós, mas esse sentido é criado e subjetivo, não é algo intrínseco às coisas. Depois, mais à frente, n’outro capítulo, veremos que essa insatisfação cria o “absurdo”.

Desta forma, o eu-lírico lança essas contraposições durante as duas primeiras estrofes. As luzes da cidade podem significar a exposição das coisas/objetos e das pessoas, enquanto o escuro de um abrigo pode ser a reclusão do ser. Ou ainda, num sentido mais amplo, pode ser a objetividade e a subjetividade da existência . É um questionamento e negação de tudo, um niilismo. Tudo equivale a nada para alguém consciente de que tudo se resume ao mesmo (como os Engenheiros explicitariam na música A revolta dos Dândis II, anos depois).

Não faz sentido a guerra nem a violência do inimigo, que batalha sem saber o motivo; que luta, se machuca e morre porque alguém mandou. O inimigo, diferente do eu-lírico, não possui essa mentalidade, não possui consciência de si e de seus atos, por isso se volta violentamente contra o outro, quando deveria se voltar contra o sistema que lhe faz lutar.

"O que fizeram com as nossas vidas? Por que viramos suicidas?"

Camus abre o livro O mito de Sísifo com a afirmativa: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia.” (CAMUS, 2016, p. 19). Em seguida, reflete que embora muitos morram porque pensam que a vida não vale a pena ser vivida, porque não há um sentido para a existência, há outros que morrem por um motivo, por um ideal. Enfim, a razão de viver também pode ser uma razão para morrer.

Tal afirmação faz-se necessária porque quase todo suicídio começa com o questionamento, que, em seguida, transforma-se numa negação da vida. A negação, na música, já vimos, é demonstrada logo nos dois primeiros versos, mas agora ela é justificada pelas questões.

Percebe-se o conflito do eu-lírico quando ele mostra não saber se é o causador ou a causa dos atos: no primeiro verso do refrão é dito “o que fizeram com nossas vidas”, isto é, nossas vidas são moldadas por outra(s) pessoa(s). Já no segundo, lê-se/ouve-se: “por que viramos suicidas”. Aqui o sujeito somos nós; lá, são eles. No entanto, implicitamente (talvez, inconscientemente), o eu-lírico já mostrou sermos nós os autores de nossas vidas, pois ele inicia a música com “a gente faz de tudo”.

Com isso, discute-se a liberdade e a responsabilidade do ser. Quando se assume a responsabilidade das nossas ações, negamos a influência de uma força superior. Camus nos diz que “(...) ou não somos livres e o responsável pelo mal é Deus todo-poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é todo-poderoso.” (CAMUS, 2016, p. 62).

Claro, aqui entra o paradoxo da onipotência de Deus. De certa forma, até mesmo da sua onisciência também. É porque ou nosso destino já está pré-estabelecido por Deus e apenas seguimos seu curso, justificando a sua onipotência e onisciência, ou possuímos o livre-arbítrio e negamos as duas qualidades do possível Ser superior, não apenas escolhendo sobre o que nos é dado, mas criando novas alternativas. É nisso que entra o Absurdo.

O absurdo em Nossas Vidas

Na quarta estrofe são demonstrados os sentimentos do eu-lírico, a sua percepção e a sua consciência da realidade. O sentimento de vazio, causado por ações repetidas em ciclos. É esse dia-a-dia que lhe causa a impressão e o pensamento (afirmado) de que embora faça de tudo, nada faz sentido. É esse cotidiano que pode fazer com que as pessoas tornem-se suicidas. Levando em consideração o período (1942) e o local (possivelmente a França), Camus diz:

Cenários desabarem é coisa que acontece. Acordar, bonde, quatro horas no escritório ou na fábrica, almoço, bonde, quatro horas de trabalho, jantar, sono e segunda terça quarta quinta sexta e sábado no mesmo ritmo, um percurso que transcorre sem problemas a maior parte do tempo. Um belo dia, surge o “por quê” e tudo começa a entrar numa lassidão tingida de assombro. “Começa”, isto é o importante. A lassidão está ao final dos atos de uma vida maquinal, mas inaugura ao mesmo tempo um movimento da consciência. Ela o desperta e provoca sua continuação. A continuação é um retorno inconsciente aos grilhões, ou é o despertar definitivo. Depois do despertar vem, com o tempo, a conseqüência: suicídio ou restabelecimento. Em si, a lassidão tem algo de desalentador. Aqui devo concluir que ela é boa. Pois tudo começa pela consciência e nada vale sem ela. (CAMUS, 2016, p. 27)

Tudo se inicia com a consciência, é ela quem faz com que o eu-lírico seja um homem absurdo, alguém revoltado com o seu contexto, com a sua vida, com o seu destino. “Essa revolta da carne é o absurdo” (CAMUS, 2016, p. 28). Para Camus, o absurdo é um divórcio entre a razão humana e a falta de razão do mundo. Mais especificamente: “O que é, de fato, o homem absurdo? Aquele que, sem negá-lo, nada faz pelo eterno. (...) Seguro de sua liberdade com prazo determinado, de sua revolta sem futuro e de sua consciência perecível, prossegue sua aventura no tempo de sua vida.” (CAMUS, 2016, p. 73)

É claro que, com isso, ao perceber a falta de sentido nas ações, o sujeito perde as esperanças (o que não significa se desesperar). A falta de esperança quanto ao futuro, por conta da morte inexorável, traz um benefício: a maior atenção para o presente, que se alia àquela responsabilidade do ser. Enfim, a liberdade de ação. Assim, o homem absurdo é um ser que está em luta constante contra o seu meio.

Por que é preciso dizer isso? Porque embora o absurdo da vida possa acabar com o suicídio, com a morte, Camus não é a favor dele — assim como o eu-lírico também não o é, como veremos mais à frente. Para o filósofo, “Matar-se, em certo sentido, e como no melodrama, é confessar. Confessar que fomos superados pela vida ou que não a entendemos.” (CAMUS, 2016, p. 21). O suicídio é uma fuga eterna para um problema passageiro. Não é um enfrentamento, mas uma desistência.

Antes de concluirmos, faremos uma pequena comparação entre alguns versos da canção e a história que dá título ao livro de Camus discutido até então.

O mito de Sísifo

Ao ler a estrofe “Eu ando tão vazio, tão cheio de vícios / E o fim da linha, é só o início / De uma nova linha, de um novo mundo / De um dia-a-dia cada vez mais absurdo.”, além de estar explícito o adjetivo “absurdo”, tema brevemente discutido aqui, é impossível não nos lembrarmos de Sísifo, um dos mortais mais inteligentes da mitologia grega.

Sísifo era um homem muito esperto. Certa vez, em troca de uma fonte para a sua cidade, delatou Zeus a Asopo, um deus-rio, dizendo que foi o deus dos deuses quem raptou sua filha. Trato feito. Porém, Zeus, quando soube, furioso, condenou Sísifo ao inferno, pedindo para que um de seus subordinados fosse atrás do indivíduo. Um passo à frente do deus, o mortal enganou o encarregado de sua morte e pediu para sua mulher não o enterrar após o seu falecimento.

Chegando ao submundo, ele implorou para deixarem-no voltar, para que pudesse pedir para a mulher e os responsáveis o enterrarem. Permitiram, mas por pouco tempo. No entanto, o mortal, apaixonado pela vida, fugiu com a mulher e continuou vivendo normalmente. Após ter enganado os deuses de novo, ele é punido para sempre: pela eternidade carregaria uma pedra monte acima, mas quando chegasse ao topo, a pedra cairia novamente e no outro dia seria feito o mesmo. Um processo infinito. Com efeito, os deuses sabiam que “(...) não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança.” (CAMUS, 2016, p. 121).

Sísifo pode ser comparado a todos os trabalhadores, principalmente àqueles que vieram após o fordismo, que trabalham em massa, em linha de produção, sem consciência de que fazem o mesmo movimento todo o dia por todos os dias, sem solução, sem esperança, sem sentido.

No entanto, como o mito não explica tudo em detalhes, fazendo-nos pensar e possivelmente imaginar, Camus reflete sobre quando Sísifo chega ao topo da subida: no que ele pensa? Se, por um momento, o castigado obter a consciência dessa sua ação em vão, ele pode se revoltar e não fazer o seu trabalho. Os deuses teriam de adquirir outra pessoa para fazer essa tarefa. Afinal,

Este mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria a sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida as mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida. A clarividência que deveria ser o seu tormento consuma, ao mesmo tempo, sua vitória. Não há destino que não possa ser superado com o desprezo. (CAMUS, 2016, p. 123)

Sísifo é um homem absurdo, assim como o eu-lírico da canção. Ambos são conscientes da distância entre os seus desejos e as suas realidades. Ao mesmo tempo, os dois sabem que o destino de suas vidas estão em suas próprias mãos, não nas de outro ser.

Embora Sísifo foi castigado, ele o foi por conta de suas próprias atitudes: o mortal enganou e negou os deuses, seu destino lhe pertence e ele o vive. Ao querer vivê-lo, os deuses são negados novamente. Assim é o homem, assim é o eu-lírico, que sabe que “o fim da linha é só o início de uma nova linha, de um novo mundo, de um dia-a-dia cada vez mais absurdo”, que continua fazendo de tudo, embora nada faça sentido.

Por fim, para comentar sobre a forma dessa estrofe, temos o uso de anáforas (palavras ou frases repetidas), com as palavras “tão” e “de uma nova / de um”. Além disso, pode-se dizer que a repetição das ações do eu-lírico reflete na construção de toda a letra, com suas repetições de versos: “A gente faz de tudo / Mas nada faz sentido”, “Não posso entender o que fizeram com nossas vidas / Não posso entender por que viramos suicidas” (além do verso ainda não citado “Eu já pensei em mandar tudo pro [...]”). Há, também, uma aliteração em [D]: “De uma nova linha, De um novo munDo / De um Dia-a-Dia caDa vez mais absurDo”.

Não ao suicídio, sim à vida e ao absurdo

Finalmente, a última estrofe inédita, na qual percebemos que o eu-lírico não se suicida. “Ficar sozinho numa noite de inverno” pode se referir ao medo de descartar a vida, sozinho. Ato nada condenável, posto que

No apego de um homem à vida há algo mais forte que todas as misérias do mundo. O juízo do corpo tem o mesmo valor que o do espírito, e o corpo recua diante do aniquilamento. Cultivamos o hábito de viver antes de adquirir o de pensar. Nesta corrida que todo dia nos precipita um pouco mais em direção à morte, o corpo mantém uma dianteira irrecuperável. (CAMUS, 2016, p. 23)

E, também, porque
(...) a experiência absurda se afasta do suicídio. Pode-se pensar que o suicídio se segue à revolta. Mas é um engano. Porque ele não representa seu desenlace lógico. É exatamente o seu contrário, pela admissão que supõe. O suicídio, como o salto, é a aceitação em seu limite máximo. Tudo se consumou, o homem retorna à sua história essencial. (...) (CAMUS, 2016, p. 60)

Assim, o eu-lírico assume de uma vez a sua liberdade de ação, a sua responsabilidade e o seu medo, aceitando o seu destino e a sua vida — irreconciliadamente, não de bom grado, pois o homem absurdo vive lutando. Sabemos que o eu-lírico não desistiu, não se rendeu, porque os últimos versos são os mesmos do início: “A gente faz de tudo, mas nada faz sentido”. Ele prosseguiu, completando o ciclo, assim como Sísifo.

Últimas palavras

Há quem diga que “a ignorância é uma benção”, mas devemos discordar. Na ignorância, Sísifo continua a fazer o seu trabalho; na ignorância, um homem pode se suicidar. Ao contrário, com a consciência, o homem pode se revoltar e, mais do que escolher entre o que lhe foi dado, ele pode criar novos caminhos a serem seguidos.

Com este texto, tentei fazer um pouco mais do que apenas ouvir a música maquinalmente, como a maioria faz. Preciso dizer, também, que apenas comentei sobre o conceito do absurdo (em momento algum pretendi esvaziar o tema — longe disso!). Que essa reflexão sirva apenas como motivação para irmos além, tanto no assunto, quanto nas audições de algumas músicas e artistas que nos permitem tais aprofundamentos.

Mais do que carregar a pedra até o cume, mais do que escutar a música, tentemos contemplá-la(s).


Referências

CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. 6 ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2016


LUCCHESE, Alexandre. Infinita Highway: Uma carona com os Engenheiros do Hawaii. Caxias do Sul: Belas Letras, 2016.

5 comentários:

  1. Saudações Carlos, tudo bem?

    Achei muito pertinente, ao início do texto, citar e dar o significado das expressões técnicas da língua portuguesa. Exemplo: paronomásias... etc. É uma maneira bem amigável de alcançar o público leigo, para que o mesmo possa compreender melhor o que está por ser analisado.

    Perfeita sua segunda colocação em relação à leitura e a reflexão, são inúmeras bandas que preocupam-se em trazer conceitos de filosofia e conhecimento às músicas, Engenheiros é uma delas.

    Excelente trazer a questão da biografia da banda, inclusive deixar de modo objetivo a inspiração filosófica das músicas.

    Muito pertinente a crítica feita às guerras, a humanidade, alienada, muitas vezes, na verdade a maioria delas, faz guerras através de gerações, as pessoas se odeiam sem saber o motivo, guerreiam para atender os interesses de muitos poucos.

    Acredito que a há uma dualidade causador-causa, sujeito-observador da própria história, ao mesmo tempo que a sociedade causa coerção no indivíduo (Durkheim), o indivíduo tem a oportunidade de ponderar sobre si próprio para tomar atitudes e enfrentar as consequências destas atitudes, porque a sociedade é formada pela união de indivíduos e ações sociais (Weber).

    Em relação ao livre-arbítrio ou responsabilidade pelas nossas escolhas, acredito neste ponto que poderia ser utilizado o autor Jean-Paul Sartre, especificamente sobre a postura existencialista/humanista que aborda justamente esta questão do ser enquanto sujeito de sua essência.

    É notória a abordagem da percepção da consciência vazia de realidade, em detrimento de uma vida acostumada com a ideia de viver numa continuidade de programa, alienados, repetindo as mesmas ações... Isso retira um dos significados da vida que é conhecer e aproveitar cada momento da existência. Diria além, que neste sentido, o modo de produção dos bens de consumo atual que inevitavelmente nos leva a abdicar da vida para manter um programa de trabalho alienado e sobrevivência, que em algum momento leva à máxima "tempo é dinheiro".

    Logo após escrever meu comentário anterior dei sequência à leitura de sua análise, a qual você justamente abordou a questão do trabalho no modo de produção capitalista. Neste caso, não há sentido para o sujeito, porque ele é alienado de seu próprio trabalho (vide Marx sobre alienação do trabalho).

    A questão do ditado popular de que ignorância ser uma benção, penso eu, é no seguinte sentido: Se você tem consciência mas, mesmo assim está sujeito a mesma situação — mesmo que não a queira — Então, entre ter consciência de algo, para permanecer neste algo, do mesmo modo que um ignorante, é preferível a ignorância.

    Excelente ter ido além, mas assim como você citou no início de seu trabalho, para ir além é necessário no mínimo um pensamento reflexivo, para assim abordar a letra/contexto da música a ponto de abstrair a mensagem do eu-lírico, ou buscar seu significado... Tendo em vista que para compreender bem, é necessário saber a fonte que embasou a crítica literária da música.

    Agradeço pelo compartilhamento de sua análise/entendimento desta música, com certeza contribuiu para melhor compreensão da mesma. Abraço!

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    1. Oi, Douglas. Tudo bem, sim. Obrigado.

      É sempre bom contextualizar antes, pois não são todos que conhecem os nomes das técnicas poéticas.

      Muitas bandas trabalham reflexões filosóficas, nem todas explicitamente e nem todas conscientemente. Mas nós podemos levar as músicas adiante.

      Com certeza, somos causa e causadores. Utilizamos das ferramentas disponíveis em nosso meio para poder modificá-lo. Marx diz isso.

      Sartre está de acordo com Camus. Eles foram amigos, mas romperam com a amizade em certo ponto.

      Sobre escolher entre a consciência e a ignorância, é subjetivo. Eu, como Camus, fico com a consciência.

      Tentei ir um pouco além da audição da música, mas ainda assim, foi só um passo nessa subida de Sísifo.

      Muito obrigado. Um abraço!

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    2. Olá Carlos.

      Sim, a contextualização é necessária pensando nos leigos, inclusive isso aproxima-os. Concordo que nem todas as bandas abordam questões filosóficas de maneira explicita e objetiva. Talvez, nós, acostumados com a reflexão/visão filosófica que "imputamos" filosofia em tudo.

      Faço uma errata em meu comentário. Apenas trouxe o modo subjetivo de perceber questão da felicidade na relação de ignorância/consciência, nisso esqueci de apresentar meu ponto de vista, que coaduna com o seu, prefiro a consciência.

      Abraço!

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