segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Relato pessoal: Pumpkins United

Breves relatos sobre minha relação com a banda Helloween

Lembro-me como se fosse ontem, primeiro ano do Ensino Médio, 2009, quando um recente amigo, o Rafael Sponton, me perguntou se eu gostava de Metal e eu respondi que não. Então ele me emprestou um CD com as músicas que gostava (a maioria era de bandas de Power Metal, nacionais e internacionais, as quais eu desconhecia todas). Ouvi com atenção e aos poucos fui gostando, principalmente de três bandas: Angra, Stratovarius e Helloween. É desta última que falarei.

O álbum que mais me chamou a atenção foi o The dark ride, por ser obscuro, pesado e melódico. Adorei a Mr Toture logo de início, assim como o riff de Escalation 666, a balada If I could Fly e a longa Dark ride. Porém, pessoalmente, em qualquer banda, o que mais gosto de ouvir são os vocais. Aprendi que o nome daquele vocalista — que se tornaria o meu preferido da banda — que canta do rasgado ao agudo é “Andi” Deris.

Passou-se um tempo e me indicaram um site que, ao menos naquela época, era razoavelmente bom, o Whiplash. Passei a ler tudo sobre a banda e, assim, comecei a ouvir os outros álbuns do Helloween. A segunda paixão foi o The Keeper of the seven Keys – part II, um álbum perfeito, clássico do começo ao fim. Impossível não se impressionar com os vocais do segundo vocalista, Michael Kiske. A potência e a extensão vocal dele são incríveis até hoje, o que o faz ser um dos melhores vocalistas de Heavy Metal e ser adorado por inúmeros fãs no mundo todo.

Aprofundando-me cada vez mais, voltando no tempo, cheguei ao primeiro álbum deles: Walls of Jericho. Que porrada! Se eu achava o The dark ride pesado, Walls of Jericho era pesadíssimo, coisa de deixar até alguns discos de bandas de Thrash Metal para trás! O vocalista também era diferente, cantava agudo, cantava baixo, cantava de forma agressiva, às vezes desafinava (o que aprendi, no Orkut, que só ele tinha esse direito), pois bem, era o Kai Hansen, primeiro vocalista, guitarrista, fundador da banda e até do gênero Power Metal.

Desta forma, eu, que não conhecia nada de Metal, virei um grande fã do estilo e do Helloween. Nunca deixei de ouvi-los. Pelo contrário, sempre os indiquei a quem não os conhecia. Assim que entrei na faculdade, em 2014, tive a oportunidade de trabalhar uma música num trabalho em grupo e eu sugeri que usássemos o eterno clássico I want out, que somente uma amiga — também fã de Heavy/Rock — conhecia.

Minha ideia foi aceita e após termos apresentado o trabalho, criei este blog e publiquei o texto-referência que usamos para fazê-lo. Em seguida, enviei-o para o site Whiplash, onde obtive um número muito maior de leitores. Conheci algumas pessoas por conta de minhas análises também, que passei a fazer de vez em quando.

Pois bem, depois de muitos anos ouvindo a banda, “agora”, no fim de 2016, foi anunciado uma turnê histórica, a Pumpkins United, que reuniria a banda atual mais os ex-integrantes Kai Hansen e Michael Kiske, guitarrista e vocalista da fase clássica do grupo. Este era o sonho de muita gente. Mais do que sonho, era a utopia de alguns, poder ver os guitarristas Kai e Weikath tocarem juntos e o Kiske cantar os antigos clássicos da banda, além de dividir os vocais com o atual (desde 1993) vocalista, Andi Deris.

A ansiedade começou no fim do ano passado, em novembro, quando começaram as vendas dos ingressos para o show, que aconteceria somente no dia 28/10/2017. Comprei o meu e o de um amigo no segundo dia, ainda bem, pois no terceiro já estavam esgotados. A casa de show, Espaço das Américas, não é muito grande, cabe apenas umas sete mil pessoas, então anunciaram uma nova data, um dia depois do primeiro concerto. Os ingressos também foram esgotados imediatamente. Por quase um ano, esperamos por esse dia. Na verdade, muita gente esperou a vida inteira, pois o show aconteceria dentro de onze meses, mas aquela reunião histórica demorou décadas para se concretizar...

Maior ansiedade chegou poucos dias antes do evento, pois anunciaram a gravação de um DVD! Os dois concertos em São Paulo seriam gravados!
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Mal amanheceu o dia 28/10/17 e dois amigos, os quais eu só conversava pela internet, mandaram-me mensagem (separadamente, porque nem se conhecem) para tentarmos nos encontrar no show. Eu já iria acompanhado também, com um amigo de longa data, da mesma idade (23), que mora no mesmo bairro, que estudou comigo da quinta série (2005) até o terceiro ano do ensino médio (2011), a saber, o Marcos Vinícios.

Os portões abririam às 19h, o show começaria às 21h, saímos de casa às 15h30, chegamos ao local às 17h30, a fila já estava enorme, quase todo mundo de preto. As estampas das camisas variavam, de Helloween a Iron Maiden, de Primal Fear a Angra, de Motorhead a AC/DC (bandas muito diferentes do estilo da que veríamos em poucas horas).

Tudo ocorreu muito bem. Um dos colegas que havia mandado mensagem, o Vagner Fagá, me avisou onde estava, fui me encontrar com ele. Deixei o amigo na fila e fui. Mal o encontrei, ele, que estava com um amigo também, estava numa discussão acerca de qual o melhor álbum do Blind Guardian, banda que também gosto muito. Depois, passamos a falar dos trabalhos do Helloween e que aquele show seria histórico para a banda e para todos que estavam ali, pois cada um tinha um motivo especial para vê-los (essa última frase foi do amigo do meu amigo).

A conversa estava boa, nem vimos a hora passar, mas assim que os portões foram abertos, meu amigo ligou para me avisar. Infelizmente, tive de ir para o fim da fila novamente. Me despedi do Vagner e do amigo dele, que foram para a fila da Pista Premium (que eu sempre me recusei a pagar e penso que todo mundo deveria boicotá-la), enquanto eu fui para a Pista Comum. Foi um prazer conhecê-los pessoalmente.

Meu amigo Marcos já estava lá dentro, a cinco metros da câmera central que gravaria o show. Outro pequeno infortúnio: mandaram eu jogar fora um pacote de bolacha que estava dentro da mochila. Era isso ou comê-la na hora, ou pagar cinco reais para guardá-la até o fim do concerto. Com muito pesar, joguei-a fora. Meu coração dói só de lembrar...

Assim que entrei, não foi difícil achar o meu amigo, o problema, mesmo, foi alcançá-lo... Havia muita gente na frente. Até pessoas que eu conhecia de vista, da cidade onde moro, Ribeirão Pires, que eu nem sabia que gostavam da banda... Depois de uns minutos de espera, quando deram uma brechinha, consegui passar.

Juntos, esperamos por uma hora e meia, observando o pessoal espalhar bexigas laranja, como foi combinado na internet, dias antes. Nisto, recebi mensagem do outro amigo, o Marcus Vinicius (sim, só muda uma letra do nome daquele que estava comigo), que veio de Manaus (!), que dizia para encontrá-lo depois do show. Felizmente o consegui. 

Pouco antes do concerto começar, o Júnior Carelli, tecladista da banda brasileira Noturnall, subiu ao palco para avisar que o evento seria gravado, que éramos para jogar as bexigas na primeira e na última música. Em poucos minutos, a cortina caiu e começou a tocar a longa Halloween! Kiske e Deris dividiram os vocais, era um sonho que estava se tornando realidade! Todo mundo começou a pular e a cantar juntos!

Sem nem dar tempo para respirarmos, a banda já iniciou a clássica Dr Stein, também cantada pelos dois vocalistas. Após terminada, ambos conversaram com o público, Andi disse que já gravaram um DVD em São Paulo, mas o que acharíamos se gravassem outro? Como todo show da turnê, as músicas eram apresentadas por dois personagens, o Seth e o Doc, numa animação no telão, que, infelizmente, parou de pegar depois da quarta canção... Fez falta, pois os vídeos deixavam tudo mais animado e colorido...

A terceira música foi I’m alive, clássico da banda, interpretada somente pelo Michael Kiske, ótimo, como sempre. Depois foi a vez de Andi Deris cantar sozinho, uma música que, quando anunciada, me enganou, pois o vocalista disse que era uma canção do álbum The dark ride (o meu preferido), que começava com o teclado... Pensei, na hora, que seria Mr Torture, a minha favorita de toda a carreira deles... mas foi a balada If I could fly, que eu também adoro, mas não tanto quanto a Mr Torture.

Da balada à paulada, Deris anunciou Are You Metal?, uma das músicas mais pesadas do Helloween. É claro que São Paulo é Metal! Foi a única do álbum 7 Sinners a ser tocada. Em seguida, sai o Deris e entra o Kiske, para cantar Rise and fall, do clássico absoluto The keepers of the seven keys  - part II.

Nova troca, Deris volta ao palco para cantar a moderna Waiting for the thunder, do aclamado álbum Straight out of hell. Também me enganei, pois, novamente, o vocalista disse que tocariam mais uma que se inicia com teclado e eu queria tanto a Mr Torture... Interessante a mudança de tons que o Deris usa ao vivo, alternando os versos entre agudos e graves. Depois, a clássica Perfect Gentleman, que contou com uma rápida participação do Kiske no fim da música, ambos fazendo brincadeiras sobre quem seria o perfect gentleman (“I’am the perfect gentlemanHe’s the perfect gentlemanThey are perfectYou are perfect”), apontando para alguns integrantes da banda e para o público.

Após esta música, ambos os vocalistas saíram para o palco e deixaram-no para o mestre Kai Hansen, o guitarrista fundador e primeiro vocalista do Helloween tocar e cantar um meddley de quatro músicas, as pesadíssimas StarlightRide the SkyJudas e Heavy Metal (is the law). Nesta última, o baixista Markus Grosskopf tomou a frente do palco e teve destaque.

Um dos momentos mais emocionantes foi a volta de Deris e Kiske para cantarem Forever and one juntos, balada da fase Deris, sequenciada por A tale that wasn’t right, balada da fase Kiske. Lindo demais.

Para deixar de choro, Deris cantou sozinho a agitada I can, do álbum Better than raw. Após terminá-la, o baterista Dani Löble fez um solo que, sabemos, nos shows anteriores, era um “duelo” entre ele e o falecido baterista, uns dos fundadores do Helloween, Ingo Schwichtenberg, através do telão, que parou de pegar logo no começo do show.

Michael Kiske retorna ao palco, então, para cantar um meddley de Livin’ ain’t no crime e Little time. Não sei se alguém não percebeu, mas houve um momento em que o guitarrista Kai Hansen ficou balançando o cinto durante esta última, como se fosse um pêndulo de um relógio. Pena que o microfone teve um problema no começo da primeira canção, mas que rapidamente foi consertado.

Após terminadas, Andi Deris reaparece e, junto de Kiske, conversaram com o público. Um dos momentos mais engraçados e bonitos do show. Kiske disse que agora cantariam uma das músicas que ele mais gosta da fase Deris, mas que só a conheceu há pouco tempo, pois na época que saiu do Helloween não queria mais saber da banda. Neste momento, expressou a cara de nervoso, fazendo bico, de braços cruzados. Foi engraçado. A canção era a Why?, que ficou muito bonita na versão dos dois juntos.

Em seguida, apenas Deris permanece no palco e canta dois clássicos de sua fase: Sole Survivor e Power. Se essas duas já são agitadas, o que dizer da próxima, a pesadíssima How many tears, do primeiro álbum da banda? Cantada, desta vez, pelos três vocalistas, Kai, Kiske e Deris! Também foi um momento muito bonito, porque Deris revelou que foi a primeira música que ouviu do Helloween e que a adorou logo de cara.

Também achei bonito que nesta e em outras músicas, Kai, Weikath e Gerstner, os três guitarristas, tocaram um ao lado do outro. Lembrou-me o Iron Maiden, banda que também conta com três guitarristas (já há muito tempo, mais de década). Aliás, sempre pensei que o Helloween é o filho mais bonito do Iron Maiden.  

Tivemos um tempo de descanso, para o primeiro encore, iniciado já pelo clássico absoluto do Power Metal, a fantástica Eagle Fly Free, cantada somente pelo Kiske, seu vocalista original. Depois, a faixa-título, a grandiosa The keeper of the seven keys, com os vocais divididos entre Kiske e Deris. Foi bacana a participação do guitarrista Sascha Gerstner nesta, pois, sozinho, alongou a canção por minutos, puxando um coro da plateia, que cantava de forma uníssona, enquanto cada integrante saía do palco.

Por fim, as duas últimas, a primeira cantada apenas pelo Kiske, a segunda por ele e pelo Deris: Future World e I want out. Nesta, houve chuva de papéis picados e balões enormes foram espalhados, finalizando de forma muito bonita o show.

Em suma, foi mais do que um excelente show, foi um espetáculo. Poder ver gênios, que criaram um novo gênero musical, que mudaram o Heavy Metal, que estiveram separados por décadas, que fizeram músicas que nos tocam há tantos anos, juntos novamente, com amigos ao redor, todos gritando “Happy happy Helloween, Helloween, Helloween, Happy happy Helloween, ooooohhhh”, ou os nomes dos vocalistas (numa das vezes, Kiske se ajoelhou e fez reverência ao público), foi e será inesquecível.

O fim do concerto não significou o final de um sonho, mas a concretização deste, além de a construção de uma eterna memória. Agora, esperemos pelo DVD, que também terá gravações do segundo dia de show e que marcará como foi esta festa.
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Depois do evento, ainda me encontrei com o colega de Manaus, Marcus Vinicius, que também estava acompanhado, mas conversamos pouco, pois eu e meu amigo (Marcos Vinícios) ainda precisávamos pegar um metrô, um trem e um ônibus, que, infelizmente, o perdemos — o pior infortúnio do dia, que nos fez andar por descaminhos (de uns 8 kms) que só Hécate conhece, dignos de noites de Halloween, das 1h25 às 2h45, mas isso é assunto para outro post, porque este aqui já está enorme. Marcus, foi um prazer conversar contigo pessoalmente também.

Obrigado a todos que me ensinaram sobre a banda, desde 2009 até agora, e que ofereceram e oferecem as suas presenças até hoje, mesmo que na internet, sob acordos e discordâncias. Pessoas que me indicaram músicas e que hoje indicam os meus textos a outros amigos, obrigado e até outra hora!

Setlist do dia 28/10/2017

01. Halloween (Kiske e Deris)
02. Dr. Stein (Kiske e Deris)
03. I'm Alive (Kiske)
04. If I Could Fly (Deris)
05. Are You Metal? (Deris)
06. Rise And Fall (Kiske)
07. Waiting For The Thunder (Deris)
08. Perfect Gentleman (Kiske e Deris)
09. Medley: Starlight / Ride The Sky / Judas / Heavy Metal Is The Law (Hansen)
10. Forever And One (Kiske e Deris)
11. A Tale That Wasn't Right (Kiske e Deris)
12. I Can (Deris)
13. Solo de bateria - Dani Löble
14. Meddley: Livin' Ain't No Crime / A Little Time (Kiske)
15. Why? (Kiske e Deris)
16. Sole Survivor (Deris)
17. Power (Deris)
18. How Many Tears (Kiske/Deris/Hansen)
19. Eagle Fly Free (Kiske)
20. Keeper of the Seven Keys (Kiske e Deris)
21. Future World (Kiske)
22. I Want Out (Kiske e Deris)

P.S.: Os únicos problemas do show: falha no microfone do Kiske por um rápido instante (em Livin’ Ain’t no crime), ausência de Kids of the Century, que foi tocada em todos os shows anteriores da turnê, problemas no telão, e não terem executado a Pumpkins United, single que leva o nome da tour e que tem participação dos três vocalistas. 


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Coisas de criança

Nunca me considerei adulto. Até possuo o corpo de um, mas a mente sempre foi de criança. Por isso, sinto-me feliz e triste; feliz, porque tenho acesso a locais e a prazeres que só um adulto pode ter, além de ser elogiado por alguns olhares sobre determinadas situações e por ter algumas qualidades que poucos adultos possuem; triste, porque, às vezes, me cobram atitudes ou ações que nunca tomei e que devo tomar, mas eu tenho muitos medos e incertezas, o que é motivo de crítica por quem também me elogia.
Acredito que nascemos vazios e enchemos a vida com experiências, sentimentos e coisas, porém, conforme crescemos, perdemos ou descartamos parte dos dois primeiros, ficamos apenas com os terceiros. Uma pena. Prefiro ser criança, pois assim continuo a ganhar vida e acrescentá-la à Vida.  

Psicologia animal

Os moralistas assemelham-se muito aos cães presos, dentro das casas de seus donos, nos corredores. Todos os dias, caminho pelas ruas do bairro com o “meu” cachorro e, infelizmente, tenho de ouvir os latidos dos cães vizinhos, mas somente daqueles que estão atrás de um portão, pois os que estão soltos continuam quietos, na deles. É engraçado, porque, às vezes, quando estão livres, nas calçadas ou nas ruas, não latem e não avançam para cima do “meu” cachorro.
Os moralistas são assim também: presos a algum local ou a alguma coisa, gritam e ofendem quem está livre, mas na verdade o que possuem é a vontade de estarem libertos, ou de que todos estejam presos como eles. Quando soltos, lá fora, ou quando fazem o que querem (às escondidas), vivem suas vidas quietamente.