Pintando uma parede, a tinta ainda fresca,
pousou um mosquito. Eu, sem querer matá-lo, assoprei-o para que saísse de lá.
Porém, ao tocar na parede, suas finíssimas perninhas ficaram presas e o seu
corpo se esmagou com o sopro... Fiquei triste por isso, pois não era a minha
intenção...
Em seguida, pensei: também nós, com uma
simples brisa da natureza, morremos. O bichinho não deve nem ter tido ideia do
que aconteceu, nem do motivo, assim como eu não imaginei que seria essa a consequência.
Nós, humanos, às vezes, até conseguimos
prever o nosso fim, podemos estudar a causa da morte do outro etc. E embora
tenhamos consciência de tantos possíveis (e também impossíveis) fatores, na
maioria das vezes, ignoramo-la (e ignoramo-los). Destruímos o nosso habitat,
moramos em áreas perigosas e quando somos esmagados, imaginamos e acreditamos
ter sido um sopro divino.
No entanto, essas são questões da Natureza, algo em que
fomos inseridos (antes de existirmos, o mundo já estava aí). Mas é que eu também
pensei na nossa natureza, na linguagem, algo que inserimos ao mundo — ao mesmo
tempo em que, utilizando-nos dela, inserimo-nos mais profundamente ao Cosmos.
Ao ver o inseto esmagado por algo invisível,
refleti: quantas vezes, por uma única palavra, algo invisível, que sai da boca de
alguém e, através do ar, atinge-nos, somos destruídos? Ainda bem que a linguagem é
dialética e, assim como pode derrubar, também pode levantar e despertar-nos. Ainda bem
que nela nem tudo é literal, mas metafórico.
Espero que esse curto texto sirva
como ponte ou escada, que pinte em vós uma nova cor (não precisa ser bonita —
até porque isso é subjetivo —, apenas diferente da de sempre).