"Bullets On The Altar"
é uma música da banda brasileira Almah. Composta por Edu
Falaschi, é uma homenagem para as doze crianças assassinadas por Wellington
Menezes, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo - RJ, 2011 .
A letra é
direta, com algumas questões e afirmações sobre crenças e visões
religiosas. Enquanto a música inicia-se como balada (música lenta), em alguns
pontos (por causa do conteúdo da letra) torna-se mais "agressiva",
para mostrar a indignação do eu- lírico. Agora, vamos à letra traduzida :
Balas no Altar
Nós somos
realmente amados?
O que é
crença e o que é crime?
Celestial?
Fora da mente de alguém?
Pessoas amam, estimam
E
acariciam quem elas crucificaram
Como
vítimas fingimos chorar.
Tragédia, fim dos dias?
Ou é
apenas a cegueira de um homem ?
Lealdade
ou fanatismo?
Sem
esperança, isso faz sentir-me muito solitário.
Homicídio
Crime
Um
tiroteio
Agonia
Você
repousa suas balas no altar.
E você morre
E você
mata
Morto por
dentro
Você
revela
Sua
aberração sob sua fé.
Tomando sonhos, tomando vidas
Tirando
anjos dos braços da inocência
Prioridade,
casa da dor!
Está
descendo pregos na chuva fria.
Mas eu sinto o fim da tempestade
E o
libertar das doze almas presas
Quando
vemos as cruzes queimando para aliviar.
Contamos com o desconhecido para deixar nossa culpa de lado
Piedade
não irá apagar suas mentiras
Encare a
evidência de que Deus é algo para aliviar
O céu é a
liberdade e o inferno é aqui.
Tomando sonhos, tomando vidas
Tirando
anjos dos braços da inocência
Prioridade,
casa da dor!
Está
descendo pregos na chuva fria.
Mas eu sinto o fim da tempestade
E o
libertar das doze almas presas
Quando
vemos as cruzes queimando para aliviar.
Agora eu vejo o fim da tempestade
E
vislumbro as doze almas ensinadas
Elas
estão livres em algum lugar descansando nas memórias.
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Análise do conteúdo
Começa-se,
então, com o eu-lírico fazendo várias questões sobre o que as religiões (pelo
menos a maioria) pregam. Somos realmente amados por Deus? Até que
ponto as atitudes por uma crença podem chegar? O que difere um
assassinato (crime) por uma questão política, de um assassinato em nome de
Deus, religião ou crença? Mesmo com tais atitudes, nós ainda somos seres
celestiais, criados pela "mente" de alguém (que é celestial também)?
Depois
disso, o eu-lírico começa a descrever as más atitudes humanas (relacionando
com a história de Jesus Cristo), mostrando como somos falsos. Diz que
crucificamos as pessoas e, depois do feito, acariciamo-las; dizemos que amamos,
estimamos e fingimos chorar. Tudo falsidade.
Na
terceira estrofe há o questionamento entre o que as pessoas geralmente pensam
ou dizem e o que realmente
pode ser. Até que ponto a lealdade passa a se tornar fanatismo? Envolvido
em tantas questões, o eu–lírico diz sentir a solidão e “puxa” a ponte anterior
ao refrão da música.
Neste
ponto, a canção fica mais “agressiva” e relembra o que aconteceu em 2011, em uma
escola de Realengo, Rio de Janeiro. O crime, os tiros, a agonia, tudo. Na frase
“você repousa suas balas sobre o altar” pode-se pensar na possível ligação que
tinha o assassino Wellington Menezes com a religião islâmica.
Na
próxima estrofe é dito que, o assassino, ao matar, já mostra que está morto por
dentro e coloca para fora o verdadeiro “eu”, no caso, uma aberração que
existia por baixo de uma fé.
Assim, ele tirou sonhos, tirou vidas e tirou os anjos (que são as crianças, seres
puros) dos braços da inocência — não só as que ele matou, mas as outras que
presenciaram a cena e a agonia também, pois é quase impossível alguém esquecer
algum acontecimento deste nível depois de ter sobrevivido. Pode-se contar não
só com a “inocência” citada, mas com os inocentes também, a saber, os pais e
parentes das crianças.
Em meio a
tantas coisas ruins, o eu -lírico mostra possuir esperanças (contradizendo-se,
pois no décimo verso ele diz não a possuir) e sentir o fim disso tudo, que é
quando as doze almas (o número de crianças mortas por Wellington) presas neste
mundo se libertam: vemos as cruzes queimarem, ou seja, o assassino pagar pelo o
que fez. Mas é dito que as cruzes queimam para aliviar, então, mesmo Wellington
pagando pelo o que fez, perdendo a vida, isso não curará a dor dos entes das
crianças, apenas a aliviará. Termina-se o refrão.
A partir
de agora, a letra começa a mostrar as convicções do eu- lírico, que se mostra
ser alguém cético perante os ideais religiosos. Ele diz que não aceitamos a
nossa culpa e clamamos por algo desconhecido (Deus) para nos aliviar; ou ainda,
como fazem alguns, colocar a razão dos fatos como planos do Divino. E termina
por dizer que o céu é a liberdade e o inferno é aqui, afirmando, então, que
vivemos no inferno e que é impossível sermos livres nesta vida.
Por fim,
repete-se o refrão, mas com mais uma estrofe. Nela, é visto o eu- lírico que
não apenas sente, mas que agora vê o fim da tempestade, observando as doze
almas, agora, sim, ensinadas a serem livres: livres em algum lugar, mas presas,
descansando nas memórias dos que ficaram.
//
Há algumas contradições na letra, no dizer/pensar do eu- lírico, mas isso é normal
do ser humano. Somos contraditórios por natureza, pois estamos sempre
mudando — algo que condiz totalmente com o ideal do álbum que se encontra a
música analisada.
"Bullets
On The Altar" faz parte do álbum Motion ("Movimento”, em português),
assim que abrimos o encarte do álbum, vemos uma frase em inglês, do filósofo
grego Heráclito de Éfeso: "You cannot step twice into the same river, for
fresh water are ever flowing on to you", algo como: "Você não
consegue pisar no mesmo rio duas vezes, pois águas novas estão sempre fluindo
sobre você".
Heráclito
nos diz que tudo passa; as águas, quando passam pelo homem que se banha, não são
as mesmas, e o homem também não é o mesmo; a tristeza que sentimos, uma hora, irá
embora, o mesmo acontece com as alegrias. Assim é a vida.
Embora a
letra seja baseada no massacre de Realengo, ela aborda questões muito válidas
sobre as religiões e crenças em todo o mundo. Vemos na História muitos casos em
que as religiões mataram muitas pessoas e continuam matando até hoje; crimes
são cometidos em nomes de crenças e de deuses, em nome da "verdade".
Devemos refletir, mudar nossa forma de pensar e agir; escolhermos a vida ao
invés da morte.