Já faz um tempo que muitas pessoas não
aceitam elogios verdadeiros vindos de pessoas verdadeiras. Há um medo, um
desconforto ao ouvir algo que lhe é bom, que lhe é favorável, como se o elogio
fosse um fardo a ser carregado: uma responsabilidade.
As pessoas negam seus "dons", seus
dotes, suas virtudes, para se mostrarem "humildes"; para se mostrarem "modestas" — quase como um arrependimento pelas suas qualidades
(Schopenhauer diz isso).
A modéstia tornou-se uma das maiores virtudes
humanas, e o que é isso senão a negação de seus próprios valores, de sua
própria vida? Isto é: a decadência do ser (que Nietzsche diz ter começado com o
cristianismo).
É notório que as pessoas aderem mais aos adjetivos ruins do que aos bons. Vivemos em uma sociedade falsa e depressiva (não é
à toa que livros de autoajuda vendem aos montes).
DIAS,
Eliana; MESQUITA, Elisete Maria de Carvalho; FINOTTI, Luísa Helena Borges; ET
AL.Gêneros textuais
e(ou) gêneros discursivos: Uma questão de nomenclatura?Disponível em: <HTTP://www.eses.pt/interaccoes>. Acesso em: 22 de fevereiro de 2015.
Este
artigo tem como base interrogar e explicar o uso e o motivo de alguns teóricos
usarem os termos “gênero textual” ou “gênero discursivo”, algo que muitas vezes
é usado ou entendido erroneamente, ou como se possuíssem o mesmo significado.
Para isso, as autoras buscaram respostas e definições em obras de Bakhtin,
Adam, Bronckart, Rojo e outros estudiosos.
Em apenas
12 páginas de conteúdo, é explicitado o início desta “confusão” de termos, desde
as interpretações sobre linguagem de
Bakhtin até os dias atuais, com outros teóricos. Explica-se aqui o que é gênero
textual e discursivo, se há diferenças entre os dois, como são formados, de quê
são formados e como devem ser entendidos.
Começam
com a perspectiva de Bakhtin sobre o que é linguagem e como ela é formada
(enunciação, polifonia, dialogismo e a própria noção de gêneros – p.144).
Fica-nos claro que, para Bakhtin, o enunciado, para ser criado, precisa de uma interação
entre um ser, um contexto histórico e um diálogo entre pessoas de uma mesma cultura.
Para cada
situação, usamos um gênero para expressarmo-nos, e esse gênero é criado a
partir de um tema, estilo e estruturação. Por isso, devemos sempre entender o
momento histórico em que o texto foi criado, porque o texto sempre será o
mesmo, o que mudará serão as interpretações sobre ele.
Vale
ressaltar a complexidade do estilo, que é dito que quase sempre será
individual, mas que, muitas vezes, dependendo do gênero escolhido para
transmitir nossas ideias, devemos usar o estilo próprio do gênero.
As
autoras se utilizam de Bronckart para explicarem que o texto é que forma o
gênero, sendo que o texto é formado por concepções da Linguística Textual e da
Gramática Tradicional (p.147), isto é, estruturação, mecanismos de
textualização (coerência e coesão) e mecanismos enunciativos. Podemos dizer que
esses elementos formam os gêneros textuais.
Por outro
lado, os gêneros discursivos se utilizam dos gêneros textuais para “criarem
vida”, ou seja, dentro de um texto há sempre as ideias de quem o fez. Um texto
é formado, primeiramente, pelo discurso e pelos ideais do locutor, partindo de um tema,
estrutura e estilo, cria-se o gênero, que, enfim, alcança o interlocutor.
Tendo-nos
a competência discursiva, utilizamos dos inúmeros gêneros textuais para
repassarmos nossas intenções da forma que queremos (ou podemos). Assim como os
gêneros textuais dependem de cada contexto histórico, os gêneros discursivos
dependem de um conhecimento antecipado de como se pronunciar, para quem, sobre
o quê, entre outros fatores de quem os usará. Os discursos são usados a todos
os momentos de nossa vida, em todas as situações proferimo-los.
Eliana
Dias; Elisete Maria de Carvalho Mesquita; Luisa Helena Borges Finotti; ET AL.
Antônio
Carlos da Silva Siqueira Júnior, aluno do curso de Letras, em IESA, Santo André
- SP.
"Bullets On The Altar"
é uma música da banda brasileira Almah. Composta por Edu
Falaschi, é uma homenagem para as doze crianças assassinadas por Wellington
Menezes, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo - RJ, 2011 .
A letra é
direta, com algumas questões e afirmações sobre crenças e visões
religiosas. Enquanto a música inicia-se como balada (música lenta), em alguns
pontos (por causa do conteúdo da letra) torna-se mais "agressiva",
para mostrar a indignação do eu- lírico. Agora, vamos à letra traduzida :
Balas no Altar
Nós somos
realmente amados?
O que é
crença e o que é crime?
Celestial?
Fora da mente de alguém?
Pessoas amam, estimam
E
acariciam quem elas crucificaram
Como
vítimas fingimos chorar.
Tragédia, fim dos dias?
Ou é
apenas a cegueira de um homem ?
Lealdade
ou fanatismo?
Sem
esperança, isso faz sentir-me muito solitário.
Homicídio
Crime
Um
tiroteio
Agonia
Você
repousa suas balas no altar.
E você morre
E você
mata
Morto por
dentro
Você
revela
Sua
aberração sob sua fé.
Tomando sonhos, tomando vidas
Tirando
anjos dos braços da inocência
Prioridade,
casa da dor!
Está
descendo pregos na chuva fria.
Mas eu sinto o fim da tempestade
E o
libertar das doze almas presas
Quando
vemos as cruzes queimando para aliviar.
Contamos com o desconhecido para deixar nossa culpa de lado
Piedade
não irá apagar suas mentiras
Encare a
evidência de que Deus é algo para aliviar
O céu é a
liberdade e o inferno é aqui.
Tomando sonhos, tomando vidas
Tirando
anjos dos braços da inocência
Prioridade,
casa da dor!
Está
descendo pregos na chuva fria.
Mas eu sinto o fim da tempestade
E o
libertar das doze almas presas
Quando
vemos as cruzes queimando para aliviar.
Agora eu vejo o fim da tempestade
E
vislumbro as doze almas ensinadas
Elas
estão livres em algum lugar descansando nas memórias.
//
Análise do conteúdo
Começa-se,
então, com o eu-lírico fazendo várias questões sobre o que as religiões (pelo
menos a maioria) pregam. Somos realmente amados por Deus? Até que
ponto as atitudes por uma crença podem chegar? O que difere um
assassinato (crime) por uma questão política, de um assassinato em nome de
Deus, religião ou crença? Mesmo com tais atitudes, nós ainda somos seres
celestiais, criados pela "mente" de alguém (que é celestial também)?
Depois
disso, o eu-lírico começa a descrever as más atitudes humanas (relacionando
com a história de Jesus Cristo), mostrando como somos falsos. Diz que
crucificamos as pessoas e, depois do feito, acariciamo-las; dizemos que amamos,
estimamos e fingimos chorar. Tudo falsidade.
Na
terceira estrofe há o questionamento entre o que as pessoas geralmente pensam
ou dizem e o querealmente
pode ser. Até que ponto a lealdade passa a se tornar fanatismo? Envolvido
em tantas questões, o eu–lírico diz sentir a solidão e “puxa” a ponte anterior
ao refrão da música.
Neste
ponto, a canção fica mais “agressiva” e relembra o que aconteceu em 2011, em uma
escola de Realengo, Rio de Janeiro. O crime, os tiros, a agonia, tudo. Na frase
“você repousa suas balas sobre o altar” pode-se pensar na possível ligação que
tinha o assassino Wellington Menezes com a religião islâmica.
Na
próxima estrofe é dito que, o assassino, ao matar, já mostra que está morto por
dentro e coloca para fora o verdadeiro “eu”, no caso, uma aberração que
existia por baixo de uma fé.
Assim, ele tirou sonhos, tirou vidas e tirou os anjos (que são as crianças, seres
puros) dos braços da inocência — não só as que ele matou, mas as outras que
presenciaram a cena e a agonia também, pois é quase impossível alguém esquecer
algum acontecimento deste nível depois de ter sobrevivido. Pode-se contar não
só com a “inocência” citada, mas com os inocentes também, a saber, os pais e
parentes das crianças.
Em meio a
tantas coisas ruins, o eu -lírico mostra possuir esperanças (contradizendo-se,
pois no décimo verso ele diz não a possuir) e sentir o fim disso tudo, que é
quando as doze almas (o número de crianças mortas por Wellington) presas neste
mundo se libertam: vemos as cruzes queimarem, ou seja, o assassino pagar pelo o
que fez. Mas é dito que as cruzes queimam para aliviar, então, mesmo Wellington
pagando pelo o que fez, perdendo a vida, isso não curará a dor dos entes das
crianças, apenas a aliviará. Termina-se o refrão.
A partir
de agora, a letra começa a mostrar as convicções do eu- lírico, que se mostra
ser alguém cético perante os ideais religiosos. Ele diz que não aceitamos a
nossa culpa e clamamos por algo desconhecido (Deus) para nos aliviar; ou ainda,
como fazem alguns, colocar a razão dos fatos como planos do Divino. E termina
por dizer que o céu é a liberdade e o inferno é aqui, afirmando, então, que
vivemos no inferno e que é impossível sermos livres nesta vida.
Por fim,
repete-se o refrão, mas com mais uma estrofe. Nela, é visto o eu- lírico que
não apenas sente, mas que agora vê o fim da tempestade, observando as doze
almas, agora, sim, ensinadas a serem livres: livres em algum lugar, mas presas,
descansando nas memórias dos que ficaram.
//
Há algumas contradições na letra, no dizer/pensar do eu- lírico, mas isso é normal
do ser humano. Somos contraditórios por natureza, pois estamos sempre
mudando — algo que condiz totalmente com o ideal do álbum que se encontra a
música analisada.
"Bullets
On The Altar" faz parte do álbum Motion ("Movimento”, em português),
assim que abrimos o encarte do álbum, vemos uma frase em inglês, do filósofo
grego Heráclito de Éfeso: "You cannot step twice into the same river, for
fresh water are ever flowing on to you", algo como: "Você não
consegue pisar no mesmo rio duas vezes, pois águas novas estão sempre fluindo
sobre você".
Heráclito
nos diz que tudo passa; as águas, quando passam pelo homem que se banha, não são
as mesmas, e o homem também não é o mesmo; a tristeza que sentimos, uma hora, irá
embora, o mesmo acontece com as alegrias. Assim é a vida.
Embora a
letra seja baseada no massacre de Realengo, ela aborda questões muito válidas
sobre as religiões e crenças em todo o mundo. Vemos na História muitos casos em
que as religiões mataram muitas pessoas e continuam matando até hoje; crimes
são cometidos em nomes de crenças e de deuses, em nome da "verdade".
Devemos refletir, mudar nossa forma de pensar e agir; escolhermos a vida ao
invés da morte.
"I want out" é uma música da banda Helloween, lançada no álbum The Keepers Of The Seven Keys Part II, de 1988. Embora a letra seja simples, há uma crítica e alguns detalhes que passam despercebidos pelos ouvintes. Em primeiro lugar, vamos à letra traduzida:
"Eu quero sair"
Desde o início de nossas vidas,
Nós somos empurrados em pequenas formas.
Ninguém nos pergunta como gostaríamos de ser.
Na escola, eles ensinam o que pensar,
Mas todos dizem coisas diferentes,
Mas eles estão convictos de que
São os únicos corretos.
Então, eles continuam a falar e nunca param,
E, em um certo ponto, você desiste
E a única coisa que resta a pensar é isso:
Eu quero sair — para viver minha vida sozinho
Eu quero sair — deixe me ser
Eu quero sair — para fazer as coisas do meu jeito
Eu quero sair — para viver minha vida e ser livre.
As pessoas me dizem A e B,
Elas me dizem como eu devo ver
As coisas que já me parecem claras.
Então, elas me empurram de um lado ao outro,
Eles me empurram do preto ao branco,
Eles me empurram até que não haja nada mais para ouvir.
Mas não me empurrem demais,
Calem-se e saiam daqui,
Porque eu decido como as coisas vão ser.
Eu quero sair — para viver minha vida sozinho
Eu quero sair — deixe me ser
Eu quero sair — para fazer as coisas do meu jeito
Eu quero sair —- para viver minha vida e ser livre.
Há um milhão de maneiras de ver as coisas na vida,
Um milhão de maneiras de ser um idiota.
No final, nenhum de nós está certo.
Às vezes, nós precisamos ficar sozinhos.
Não, não, não ... Me deixe sozinho.
//
//
A letra é muito simples e o clipe a segue fielmente, mas há algumas questões que devem ser refletidas ao invés de somente assistidas.
No início do videoclipe, o vocalista Michael Kiske aparece sentado e abre a boca, então, a câmera adentra-a e a música começa a ser cantada. Isso mostra que todos os pensamentos da música são conflitos internos do personagem.
Como já citado, o clipe acompanha a letra rigorosamente. Assim, vê-se os integrantes da banda empurrando o Kiske para uma caixa. Na vida, existem as doutrinas religiosas, a política, as leis, as morais, as tradições etc. Todas elas são formas que empurram as pessoas desde que elas nascem; para se livrarem, precisam refletir, pensar além e, o mais difícil, agir.
O refrão é um grito que todos, em algum momento da vida, já sentiram ou deram. Quem nunca teve vontade de se livrar de algo, de ficar sozinho, de fazer as coisas por conta própria, à sua maneira? Percebe-se que, em muitas passagens, a banda está em um deserto (ou algo parecido), e isso acontece porque o deserto tem o significado de solidão. Para o eu-lírico se questionar assim, ele se sente sozinho. Em certas partes da música, chega até a pedir a solidão.
Por outro lado, sempre que a câmera volta ao "mundo real", o vocalista não fala nada — algumas vezes, soluça. Quantas vezes as pessoas se sentem incomodadas com algo, reclamam "por dentro", mas, por fora, aparentam estar bem? É o mesmo caso. O soluço seria a vontade de gritar para o mundo o que se sente e o que se pensa, porém essa vontade e voz não saem.
De resto, o clipe segue a letra, os membros jogando o vocalista de um lado ao outro, nunca o deixando sozinho, até que, na última estrofe, ele diz o que pensa. No último verso, seguido de vários "nãos" (que demonstram o conflito interior, pois se ele estava sozinho, não havia com quem conversar e discordar), pede-se a solidão.
Voltando à cena para o mundo real, o vocalista faz um gesto de zombaria para quem está olhando/assistindo, como se dissesse: "O que foi? Assustador? Não imaginava que esta é a minha vontade?". No clipe, ainda aparece uma frase, no último segundo: "And so?", que seria algo como "E então?" ou “E depois?”, questionando se o eu-lírico, ou quem assiste e sente o mesmo, continuará só na vontade de sair e se livrar, ou se realmente o fará.
O vídeo foi interpretado como um indivíduo com problemas, mas é possível pensar na questão social também: o ano era 1988 e a banda é alemã, nesta época, ainda existia o Muro de Berlim, que separava a Alemanha em duas: "oriental e ocidental; metade comunista, metade capitalista". Talvez, poderia ser a ideia da banda sobre a vontade da nação em ser "livre", em ser única, em deixar de ser vigiada e imposta por ideais de outros países.
Por fim, há quem diga que a letra mostra a vontade do guitarrista, fundador e principal compositor da banda, Kai Hansen, deixar o grupo, o que realmente aconteceu pouco tempo depois, sendo o The Keepers Of The Seven Keys Part II o último álbum com sua participação.