LÍSIAS, Ricardo. O céu dos suicidas.
São Paulo: Alfaguara, 2012. 186 p.
O céu dos
suicidas é um romance brasileiro que mostra a história de Ricardo Lísias, um
colecionador de selos que perdeu seu melhor amigo da pior maneira possível, um
suicídio. Inconformado, Ricardo busca respostas para sua vida. Este é o
conflito inicial que faz com que Ricardo adentre em mais conflitos, tanto
físicos quanto mentais/psicológicos.
Em apenas
186 páginas, dividido em capítulos rápidos, a escrita fácil de Ricardo Lísias
prende o leitor de forma que ao começar a ler o romance, não se quer parar até
que a história termine. A obra não segue uma narração linear, Ricardo fica indo
e voltando ao passado, mas isso é próprio do narrador que está com problemas na
memória e na mente. O livro engloba temas polêmicos e atuais como suicídio,
posições e conceitos religiosos, conflitos sociais (terrorismo) e
comportamentos humanos perante certas situações.
O título
já deixa explícito um conflito: “O céu dos suicidas” — todos
sabem que na maioria das religiões ou crenças, os suicidas não vão para o céu
(paraíso), então, já fica a hipótese do que está por vir no romance.
Começa-se
com Ricardo falando que é um especialista em coleções, mas que as doou há
alguns anos; depois, vai descrevendo fatos da sua infância e as pessoas da sua
família. Interessante logo de início o retrato da tia dele, que ao
decepcionar-se, viaja em busca de respostas, de paz, de espiritualidade, na
Índia — e consegue–as. Ricardo também se decepciona e busca respostas, paz e
espiritualidade, assim como sua tia.
Outro
conflito é causado por Ricardo ser um colecionador, que são pessoas que sabem se
organizar, mas essa organização se quebra assim que Ricardo perde seu amigo
André.
A obra
denota um personagem cheio de problemas causados por ele mesmo, que não aceita
a perda do amigo e que começa a tirar conclusões erradas sobre aquilo que ele
não tem resposta. Ricardo conclui sem provas que seu bisavô era terrorista e
que pessoas que se suicidam vão para o céu, sim; achando-se o centro das
atenções, sem aceitar ajuda de ninguém, ele xinga tudo e todos assim que ouve coisas que não
quer ouvir, entrando cada vez mais em confusões e brigas: isso é um retrato
perfeito das pessoas da nossa chamada “pós-modernidade”.
É feito
uma crítica às religiões e seus conceitos sobre os suicidas, que ignoram todas
as ações anteriores do indivíduo, se foram boas ou ruins, dando somente atenção
e opinião para seu ultimo feito: suicidar-se/matar-se (algo que é errado para
as religiões, uma vez que Deus que dá a vida, não se pode acabá-la por vontade
própria).
Em certo
momento do livro, Ricardo possui um momento um tanto espiritual, que lhe parece
que o cura. Isso ocorre dentro de uma igreja. Então Ricardo passa a adentrar
mais igrejas atrás de conforto — outra ação comum das pessoas que
possuem problemas que não conseguem resolver sozinhas: buscar ajuda espiritual.
Isto não demonstra somente uma busca por respostas sobre os acontecimentos, mas
respostas sobre quem ele é ou o que está sendo.
Depois de
levar uns “tapas da vida”, Ricardo compreende quem ele é, como as coisas são e
como é o mundo ao seu redor. Fecha-se de uma forma linda este romance, com uma
reflexão sobre a espiritualidade (sem preconceitos religiosos) e sobre a vida.
Embora de
linguagem simples, a obra oferece diversas reflexões sobre os atos, vida e
ações da sociedade perante alguns temas — como não poderia deixar de fazer, pois
toda verdadeira Literatura coloca-se a oferecer tais abordagens.
O autor,
Ricardo Lísias, é um escritor contemporâneo, vencedor de vários prêmios dentro
do país.
Antônio
Carlos da Silva Siqueira Júnior, formado em Letras, pela Faculdade de Santo André, Santo André – SP.