sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Análise do poema "As coisas", de Paulo Franco.

As coisas

Sobre os objetos
o olhar dos homens.
Sobre os homens
o ostentar dos objetos,
mais eternos, estáticos,
depositários do olhar das gerações.

A estante, a escrivaninha,
a penteadeira incômoda
observando o pentear
de quem se vai a cada instante.

O castiçal impávido
em um cômodo
do tempo
intacto.

Lá fora a tempestade,
abstrata
como o olhar
que observo
sobre as coisas.
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Análise do conteúdo:

Neste poema vê-se uma crítica ao materialismo e, obviamente, à sociedade atual. É visto que o homem olha para os objetos como se ele fosse superior, mas que, na realidade, os objetos valem mais do que o próprio homem, pois eles duram mais tempo, não mudam e são para eles que os olhares são voltados.

Na segunda estrofe o eu-lírico brinca com o sentido da frase. Ele diz que os objetos observam as pessoas que os usam e depois se vão. Assim, reforça a ideia da primeira estrofe, que diz que as coisas/objetos duram mais que os homens. Além disso, o eu-lírico coloca como se os objetos tivessem vida, pois "observam" os outros. Esse "(...) observando o pentear/ de quem se vai a cada instante" pode ser interpretado como as pessoas que deixam esta vida, ou seja, morrem, mas os objetos continuam lá.

E, por fim, o poema termina por dizer que embora nossa visão seja apenas material, lá fora, o mundo também é composto por coisas abstratas; no caso, é citado a tempestade, mas pode se pensar no tempo e nos sentimentos, por exemplo. Pode ser entendido que devemos olhar para o mundo com olhares abstratos também, olhares com sentimento, assim como o olhar do eu-lírico.

Uma outra questão que vale a pena refletir é que, no mundo, há coisas que são de natureza abstrata, por exemplo, as tradições, costumes e morais. Mas de tanta atenção e valor que os homens depositam, elas tornam-se quase "coisas concretas".

Há muitas regras/leis/costumes/tradições e morais que foram criadas há muito tempo e que são valorizadas até hoje (mesmo que discriminando muita gente), não mudam muito com o passar dos anos, os homens usam-nas, vivem-nas, morrem, e elas continuam as mesmas, assim como os objetos ditos na primeira estrofe.

Interessante pensar em como o homem, criador das coisas, tornou-se escravo das mesmas; se antes ele criava uma calça para lhe servir, agora ele faz regime e academia para servir na calça.
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