As coisas
Sobre os
objetos
o olhar
dos homens.
Sobre os
homens
o
ostentar dos objetos,
mais
eternos, estáticos,
depositários
do olhar das gerações.
A
estante, a escrivaninha,
a
penteadeira incômoda
observando
o pentear
de quem
se vai a cada instante.
O
castiçal impávido
em um
cômodo
do tempo
intacto.
Lá fora a
tempestade,
abstrata
como o
olhar
que
observo
sobre as
coisas.
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Análise do conteúdo:
Neste poema vê-se uma crítica ao
materialismo e, obviamente, à sociedade atual. É visto que o homem olha para os
objetos como se ele fosse superior, mas que, na realidade, os objetos valem mais
do que o próprio homem, pois eles duram mais tempo, não mudam e são para eles
que os olhares são voltados.
Na segunda estrofe o eu-lírico
brinca com o sentido da frase. Ele diz que os objetos observam as pessoas que
os usam e depois se vão. Assim, reforça a ideia da primeira estrofe, que
diz que as coisas/objetos duram mais que os homens. Além disso, o eu-lírico
coloca como se os objetos tivessem vida, pois "observam" os outros.
Esse "(...) observando o pentear/ de quem se vai a cada instante"
pode ser interpretado como as pessoas que deixam esta vida, ou seja, morrem,
mas os objetos continuam lá.
E, por fim, o poema termina por
dizer que embora nossa visão seja apenas material, lá fora, o mundo também é
composto por coisas abstratas; no caso, é citado a tempestade, mas pode se
pensar no tempo e nos sentimentos, por exemplo. Pode ser entendido que devemos
olhar para o mundo com olhares abstratos também, olhares com sentimento, assim
como o olhar do eu-lírico.
Uma outra questão que vale a pena
refletir é que, no mundo, há coisas que são de natureza abstrata, por exemplo,
as tradições, costumes e morais. Mas de tanta atenção e valor que os homens
depositam, elas tornam-se quase "coisas concretas".
Há muitas regras/leis/costumes/tradições
e morais que foram criadas há muito tempo e que são valorizadas até hoje (mesmo que
discriminando muita gente), não mudam muito com o passar dos anos, os homens
usam-nas, vivem-nas, morrem, e elas continuam as mesmas, assim como os objetos
ditos na primeira estrofe.
Interessante pensar em como o
homem, criador das coisas, tornou-se escravo das mesmas; se
antes ele criava uma calça para lhe servir, agora ele faz regime e academia
para servir na calça.