Oversoul
é uma música da banda de Heavy Metal "Andre Matos", composta pelo
próprio vocalista e tecladista Andre Matos, Bruno Ladislau (baixista) e Hugo
Mariutti (guitarrista), presente no álbum The Turn Of The Lights, de
2012.
A letra
traz uma visão crítica da nossa realidade, sobre o capitalismo, o consumismo
e a alienação. Pode-se dizer que a música não chega a ser “pesada”, mas é rápida,
assim como o ritmo da vida moderna — e não, como pensa a maioria, que a música
é rápida ou pesada somente por a banda ser de Heavy Metal, pois conteúdo e
melodia estão intrinsecamente ligados —, possuindo, em certo momento, uma “quebra”
de ritmo, mas que depois volta para sua velocidade de início. Analisemos a
tradução:
Superalma
As
mandíbulas das corporações
Estão se
espalhando para todos os lados
Invadindo
como uma praga, você não pode ignorar
Você é
levado para uma armadilha
Eles
parecem nem se importar
Com sua
vida, sua saúde — sua miséria!
Eles
precisam que você diga
Eles
precisam que você jogue
Eles vão
achar um jeito para suas necessidades
Você é
examinado de cima a baixo
Pois eles querem saber:
Você é
simples o bastante para nos servir?
Toda vez
que eles atingem seus objetivos
Você é
esfaqueado, mas não sabe
Você não
consegue sentir a Superalma?
O
significado de tudo isso...
O
florescer de uma vida
Você é
inocente e selvagem
Você acha
que sabe a verdade, mas simplesmente não sabe
É assim
mesmo, quando se começa
Você tem
que se juntar ao jogo!
Você está
procurando por respeito — para ser alguém!
Eles
forçam você a jogar
Eles
forçam você a desejar
A partir
de agora, eles estarão por trás de suas necessidades
Você fará
o que eles dizem
Não
consegue escolher seu próprio caminho
Exatamente
quando é tarde demais para voltar atrás.
Toda vez
que eles atingem seus objetivos
Você é
esfaqueado, mas não sabe
Você não
consegue sentir a Superalma?
O
significado de tudo isso...
Olhe ao
redor e veja
Você
perdeu toda a vontade de viver?
Por que
você não levanta e luta por sua alma?
//
Análise do conteúdo
Começa-se,
então, com um eu-lírico alertando sobre o crescimento das
corporações/empresas/grupos/instituições que, como se sabe, regem influência
direta em nossas vidas. Interessante é que ele compara as corporações às pragas,
pois elas alastram-se, destruindo os ambientes — no caso, nossa terra, nossa
natureza, nosso planeta, nosso lar — e as vidas; ainda assim, é certo que pragas
são prejudiciais, mas podem ser combatidas (o que mostra a esperança do eu –
lírico).
Em
seguida, diz que somos levados para uma armadilha e que elas/eles, corporações/empresas/governantes, parecem não se importar com as nossas
vidas, com a nossa saúde e miséria, o que é verdade, pois todas essas
instituições estão preocupadas somente com os lucros (deles, e não os nossos;
para eles, quando pensamos e agimos diferente da maioria, nós somos a
praga a ser combatida).
Na
segunda estrofe, o eu-lírico mostra o quanto estamos ligados às corporações, e
estas, a nós; diz que precisam de nossa opinião, necessitam conhecer nossas
necessidades e vontades, para que, assim, continuemos no jogo (deles).
Não é
muito raro vermos empresas, sites etc. perguntando ou pedindo a nossa opinião
sobre tal produto, modificação ou ação; sempre usando a "segunda pessoa do
singular", “tu/você”, para dar a impressão de que realmente se importam e de que nós
quem mandamos, criando um ar de “construção”, quando, na realidade, é manipulação.
Termina-se a estrofe dizendo que somos examinados de cima a baixo e que as
corporações realmente estão preocupadas conosco: querem saber se iremos
servi-las ou não.
Então, chega o refrão da música, no qual é dito que todas as vezes que “eles” atingem
seus objetivos, somos esfaqueados sem saber. Claro, nossa pobreza ou nosso prejuízo é
o lucro e a riqueza dos donos de empresas; ou ainda, como vemos atualmente, no
Brasil, os políticos comemorando suas vitórias, com seus projetos pessoais,
irracionais e empresariais, que fazem bem somente a eles, mas não ao povo — e
que, se não pesquisarmos, nem ficamos sabendo. O refrão termina com uma
pergunta: “Você não consegue sentir a Superalma? / O significado de tudo
isso...”; notemos o uso da letra maiúscula em “Superalma”, algo que dá um
significado maior à palavra.
Em
inglês, a palavra “over” já deixa a expressão com mais ênfase, portanto,
“oversoul” seria uma “superalma”, mas Andre Matos ainda a deixa com letra
maiúscula. Quando se usa uma palavra desta forma, trata-se de algo
supremo, algo universal, a representação perfeita daquilo que se propõe —
característica da Literatura Clássica. Pode-se interpretar essa “Superalma” como a
situação da vida, a situação como um todo, com seus lados bons e ruins,
externos e internos.
Na
próxima estrofe, o eu–lírico fala sobre o florescer da vida, sobre o despertar; diz que somos inocentes e selvagens,
achamos que conhecemos a verdade (sem saber). Aqui, mostra-se a experiência do eu–lírico, que, por ser mais velho, sabe que quando estamos despertando,
achamo-nos inteligentes, mas temos tanto a aprender... Ou, talvez, esteja
falando dos alienados; vemos tantas pessoas se considerando cultas, menosprezando todos os outros que não concordam com suas ideias, chamando-os de alienados e dominados por uma ideologia, quando, na verdade, nem percebem que
eles também estão sob outra ideologia, mas não percebem — ou não querem saber.
Para
terminar a estrofe, diz que a vida é assim mesmo, temos de nos juntar ao jogo,
procurar por respeito, procurar ser alguém. Isso é ensinado e realmente
torna-se o desejo de muitos. Essa é a ideologia passada, mas poucos se
perguntam: o que é ser alguém? Ter respeito pelo o quê? Muitos confundem
“respeito” com “medo”, outros querem ser respeitados pelo o que têm, e não pelo
o que são. Todos devem buscar ser alguém, sendo assim, ser alguém é ser igual,
e quem não pensa assim é diferente, é perigoso, é louco, é praga. O jogo deve
ser jogado, não pode ser modificado, não pode ser (re)construído ou debatido.
Como
objetos, somos forçados a jogar e levados a desejar, assim, não precisamos somente das necessidades, mas de quem as produza (e as induza) também. Fazemos o
que mandam fazer, não escolhemos nosso próprio caminho, tornamo-nos alienados.
Tornamo-nos objetos ao invés de sujeitos. Depois
disso, repete-se o refrão e inicia-se o solo.
Neste
momento, quando o refrão acaba, a música tem um corte repentino, tocando
somente o piano. A música fica silenciosa, triste, como se fosse um momento para a reflexão. Aos poucos, os instrumentos voltam à velocidade inicial e o eu–lírico faz suas últimas questões ao leitor/ouvinte: “Olhe ao redor e veja / Você
perdeu toda a vontade de viver? / Por que você não levanta e luta por sua
alma?”, incitando-nos a sermos nós mesmos, buscarmos e lutarmos para sermos o
que somos, e não o que querem que sejamos.
Além
disso, ao sugerir a luta pela alma, que é algo abstrato, deixamos, pelo menos
nesse momento, de lutar por coisas materiais. Repete-se o refrão e termina-se a
música, novamente, com quebra de ritmo, triste, assim como a situação da vida
no mundo atual, ou como pode acabar se
continuarmos assim.
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Andre
Matos é um dos maiores representantes do Heavy Metal brasileiro, reconhecido como um dos maiores vocalistas do mundo. Já esteve à frente das
bandas Viper, Angra, Shaman, Virgo e Symfonia, além de ter participado de vários
projetos. Está em carreira solo desde 2006, onde lançou três álbuns até então,
sendo The Turn of The Lights o último.
Ótima música crítica e ótima análise da música :D
ResponderExcluirÓtima música mesmo. Muito obrigado!
ExcluirEssa música me lembrou de duas outras "3a do Plural" dos Eng. Do Hawaii e "Admirável Chip Novo" da Pitty
ResponderExcluirParabéns pela análise da música
Muito boas as duas músicas citadas, mas a da Pitty é baseada no livro Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley (que li recentemente e até fiz e publiquei um texto sobre ele aqui, no blog), que engloba mais do que o capitalismo.
ExcluirObrigado, Tiago!