FRANCO,
Paulo. A máscara no espelho
– Uma antologia inacabada. São Paulo: Scoortecci, 2012. 153 p.
Este
livro de poesia tem como base a reflexão sobre as várias facetas dos seres
humanos; a observação das ações das pessoas para com o outro, além do
sentimentalismo do poeta sobre alguns temas tais como: o amor, o afastamento do
eu, a infância e até mesmo o ser poeta.
Em apenas
146 páginas, Paulo Franco distribui suas críticas, dúvidas, questões e
sentimentos sobre o mundo e a vida em 100 poemas — considerados os “melhores”
de outros livros já lançados. Sendo vários os temas abordados na obra, nesta
resenha será tomado como objeto de análise apenas um deles: o “ser poeta”.
Partindo
do poema “O Circo” (p. 91), aqui mostra-se o eu - lírico interpretado por um
palhaço, podendo significar também o poeta. Ele diz que é a representação do
que as pessoas são, e que ele não deseja ser – em alguns aspectos – como elas,
ou seja, como seus leitores.
As ações
do poeta/palhaço são suas poesias, inspiradas nas pessoas ao seu redor, na sua
platéia. Em seguida, diz assistir a seus sonhos repetidos, sentimentos tediosos
(“enfadonhos”) em que ele é um palhaço que se pinta por dentro para se
esconder, isto é, um ser que não aceita ser como é, por isso se pinta por
dentro também (porque por fora o palhaço já é pintado), para tentar enganar-se
totalmente.
Fora dele
há uma estrada que ele busca para não ser como sua platéia, que ele considera
patética por rir dos seus atos, como se ele fosse diferente. Ora, ele nada mais
é do que a representação dela mesmo.
Por fim,
termina por dizer que as pessoas ao seu redor são “vulgares”, e que ele, eu –
lírico/ poeta/ palhaço/ artista é um ser inconstante, volúvel, que vê no vago um vazio intenso. Isso
mostra que o poeta é um alguém realista, porque algo vago é algo vazio, então
ele não inventa nada sobre a
realidade, apenas descreve-a como ela é — talvez aqui o eu – lírico esteja se
referindo à sua platéia como um vazio; que as pessoas ao seu redor não
signifiquem muito para ele, que sua platéia é vazia. O interessante aqui (e que
será visto em outros poemas do mesmo tema) é essa inconstância do ser poeta,
esse conflito que sempre o acompanha.
Outro
poema que se refere ao poeta é o “O louco” (p. 107). Aqui aparece um poeta em
meio a um momento de inspiração, mas que não possui um lápis, então perde a
chance de escrever o poema e modificar o mundo, pois sem o poema, nada foi
acrescentado ao mundo, nada lhe foi mudado.
Depois
ele descreve o cenário em que se localiza e compara os objetos ao seu redor com
o poema que não foi escrito momentos antes, chamando-os de “fora de moda”, por
estarem, ambos (os objetos e o poema), no passado. Então o eu- lírico poeta
lança seu olhar para fora e avista um “louco” rindo, como se o motivo do riso
fosse o poeta que teve seu lápis roubado.
O louco
pode ser tratado tanto como a distração do próprio poeta, como também pode
estar representando as pessoas más intencionadas da vida, que roubam o que é
útil dos outros e ainda caçoam das vítimas. Outra questão que pode ser abordada
é que quando o louco rouba o lápis do poeta, ele não rouba somente o lápis, mas
todo um futuro que poderia ter sido criado a partir dele: as poesias, as ações,
as interpretações e as emoções que seriam tiradas dos poemas escritos por
aquele lápis. O louco rouba, ao mesmo tempo, algo concreto (o lápis) e algo
abstrato (a poesia e tudo o que ela viria a criar nos outros).
Depois de
ter sido roubado, o eu- lírico dirige-se ao computador sem medo (“impávido”) do
que possa vir, como se estivesse atento para não perder as próximas
oportunidades da vida; o louco ri novamente e vai embora, como se fosse um
sonho, como se fosse o poema de outrora. Pode ser entendido nessa última
estrofe que, às vezes, aparecem pessoas na vida que podem causar algum mal, e
depois que elas vão embora, tornamo-nos mais atentos ao nosso redor.
Além
disso, no início, o eu – lírico poeta havia perdido a inspiração para escrever
o poema, mas a conseguiu novamente na perda, compondo esse novo poema, agora
terminado (fazendo deste um meta-poema).
E se tudo isso foi apenas imaginação do eu- lírico, o louco pode ser que seja
ele mesmo. E, novamente, o poeta encontra-se em conflito e sozinho.
No poema
“Planta” (p. 129), o eu - lírico começa descrevendo o cenário (“meus
aposentos”), suas ações e sua recepção; no caso, enquanto ele alimenta as
pessoas com poesia, as pessoas passam por ele se reclamando. Em seguida, diz
ser uma planta de fé, que possui suas raízes fincadas no medo, na aflição e no
nada.
Ora, a
planta é algo natural e belo, então, o poeta afirma nessa estrofe que das
coisas ruins (“aflição, medo e nada”) podem surgir coisas boas também, como a
poesia. Por fim, diz estar plantado contra os sonhos, sendo atropelado pela
própria estrada; ou seja, o poeta é alguém realista e as pessoas querem viver
em ilusões (“sonhos”), por isso reclamam de onde ele está: no meio do caminho,
um vaso no meio da estrada.
Isso
mostra que o poeta está sempre contra as atitudes humanas e afirma o que já foi
dito nos outros parágrafos e análises: o poeta está sempre em conflito, é
realista e está sempre sozinho.
No poema
“Semântica” (p. 137), é reafirmado tudo o que já foi dito nos outros poemas em
que o tema é o próprio “poeta”. Novamente, mostra-se aqui o eu – lírico poeta
em conflito. Com a espada de um guerreiro ateu, que, no caso, seria a palavra
ou o poema, ele pode tanto atacar quanto se defender dos dogmas, preceitos, e conceitos
religiosos que o cerca.
Depois,
diz ver o mundo como um espelho antigo, angústia e solidão, retraída e muda.
Pensemos: o espelho só reflete aquilo que é posto em sua frente, se ele é
antigo e reflete tais coisas agora, é porque o mundo continua o mesmo de tempos
atrás.
Em
seguida, conta que seu verso não vale nada na luz, o que deixa a hipótese de
que, talvez, na escuridão, ele valha muito; que seus versos não são feitos para
aqueles que estão bem, e sim, para os que precisam de ajuda, que se encontram
na escuridão.
O eu-
lírico afirma na próxima estrofe que a rima dele é uma estrada que torna a vida
mais fácil de ser digerida, com isso, conclui-se que a vida não é fácil de ser
vivida, que seus versos, poemas e rimas são uma antecipação da vida — assim
como qualquer verdadeira obra de Literatura — e que, se sua rima é uma estrada,
além de ser uma antecipação que o poeta traz para o leitor, pode ela já ter
sido criada por outras pessoas.
Para
fechar a ideia de “o que é ser poeta”, o eu- lírico diz que essa é a sua
semântica: medo, solidão, ilusão, espírito e algo a mais que ele pode
pressentir na escuridão em que se encontra. Coincidindo com o poema “Planta”,
os dois afirmam que no seu interior (no caso da planta, as suas raízes) estão o
medo, a solidão, o nada e suas ilusões, mas que nada disso é certeza, pois o
eu- lírico apenas pressente, não pode afirmar, pois está envolto na escuridão,
na incerteza. Tudo isso ressalta o quanto o poeta é inconstante, é volúvel
(como também é dito no poema “O Circo”) e realista.
Em suma, A Máscara no Espelho é um ótimo livro de
poesia moderna, que busca trazer para o leitor várias reflexões sobre muitos
temas. Escrito de maneira simples, o que pode dificultar a compreensão do poema
é a forma de interpretá-lo, pois depende da vivência e visão de mundo de cada
um. É recomendado para os alunos de Letras ou amantes da Literatura em Poesia.
O autor,
Paulo Franco, é um escritor contemporâneo, vencedor de vários prêmios
literários dentro do país.
Antônio
Carlos da Silva Siqueira Júnior, aluno do curso de Letras, em IESA, Santo André
– SP.