sábado, 31 de janeiro de 2015

Resenha do livro "O céu dos suicidas",de Ricardo Lísias.

LÍSIAS, Ricardo. O céu dos suicidas. São Paulo: Alfaguara, 2012. 186 p.

O céu dos suicidas é um romance brasileiro que mostra a história de Ricardo Lísias, um colecionador de selos que perdeu seu melhor amigo da pior maneira possível, um suicídio. Inconformado, Ricardo busca respostas para sua vida. Este é o conflito inicial que faz com que Ricardo adentre em mais conflitos, tanto físicos quanto mentais/psicológicos.

Em apenas 186 páginas, dividido em capítulos rápidos, a escrita fácil de Ricardo Lísias prende o leitor de forma que ao começar a ler o romance, não se quer parar até que a história termine. A obra não segue uma narração linear, Ricardo fica indo e voltando ao passado, mas isso é próprio do narrador que está com problemas na memória e na mente. O livro engloba temas polêmicos e atuais como suicídio, posições e conceitos religiosos, conflitos sociais (terrorismo) e comportamentos humanos perante certas situações.

O título já deixa explícito um conflito: “O céu dos suicidas”  todos sabem que na maioria das religiões ou crenças, os suicidas não vão para o céu (paraíso), então, já fica a hipótese do que está por vir no romance.

Começa-se com Ricardo falando que é um especialista em coleções, mas que as doou há alguns anos; depois, vai descrevendo fatos da sua infância e as pessoas da sua família. Interessante logo de início o retrato da tia dele, que ao decepcionar-se, viaja em busca de respostas, de paz, de espiritualidade, na Índia — e consegue–as. Ricardo também se decepciona e busca respostas, paz e espiritualidade, assim como sua tia.

Outro conflito é causado por Ricardo ser um colecionador, que são pessoas que sabem se organizar, mas essa organização se quebra assim que Ricardo perde seu amigo André.

A obra denota um personagem cheio de problemas causados por ele mesmo, que não aceita a perda do amigo e que começa a tirar conclusões erradas sobre aquilo que ele não tem resposta. Ricardo conclui sem provas que seu bisavô era terrorista e que pessoas que se suicidam vão para o céu, sim; achando-se o centro das atenções, sem aceitar ajuda de ninguém, ele xinga tudo  e todos assim que ouve coisas que não quer ouvir, entrando cada vez mais em confusões e brigas: isso é um retrato perfeito das pessoas da nossa chamada “pós-modernidade”.

É feito uma crítica às religiões e seus conceitos sobre os suicidas, que ignoram todas as ações anteriores do indivíduo, se foram boas ou ruins, dando somente atenção e opinião para seu ultimo feito: suicidar-se/matar-se (algo que é errado para as religiões, uma vez que Deus que dá a vida, não se pode acabá-la por vontade própria).

Em certo momento do livro, Ricardo possui um momento um tanto espiritual, que lhe parece que o cura. Isso ocorre dentro de uma igreja. Então Ricardo passa a adentrar mais igrejas atrás de conforto  outra ação comum das pessoas que possuem problemas que não conseguem resolver sozinhas: buscar ajuda espiritual. Isto não demonstra somente uma busca por respostas sobre os acontecimentos, mas respostas sobre quem ele é ou o que está sendo.

Depois de levar uns “tapas da vida”, Ricardo compreende quem ele é, como as coisas são e como é o mundo ao seu redor. Fecha-se de uma forma linda este romance, com uma reflexão sobre a espiritualidade (sem preconceitos religiosos) e sobre a vida.

Embora de linguagem simples, a obra oferece diversas reflexões sobre os atos, vida e ações da sociedade perante alguns temas  como não poderia deixar de fazer, pois toda verdadeira Literatura coloca-se a oferecer tais abordagens.

O autor, Ricardo Lísias, é um escritor contemporâneo, vencedor de vários prêmios dentro do país.

Antônio Carlos da Silva Siqueira Júnior, formado em Letras, pela Faculdade de Santo André, Santo André – SP.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Análise do poema "As coisas", de Paulo Franco.

As coisas

Sobre os objetos
o olhar dos homens.
Sobre os homens
o ostentar dos objetos,
mais eternos, estáticos,
depositários do olhar das gerações.

A estante, a escrivaninha,
a penteadeira incômoda
observando o pentear
de quem se vai a cada instante.

O castiçal impávido
em um cômodo
do tempo
intacto.

Lá fora a tempestade,
abstrata
como o olhar
que observo
sobre as coisas.
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Análise do conteúdo:

Neste poema vê-se uma crítica ao materialismo e, obviamente, à sociedade atual. É visto que o homem olha para os objetos como se ele fosse superior, mas que, na realidade, os objetos valem mais do que o próprio homem, pois eles duram mais tempo, não mudam e são para eles que os olhares são voltados.

Na segunda estrofe o eu-lírico brinca com o sentido da frase. Ele diz que os objetos observam as pessoas que os usam e depois se vão. Assim, reforça a ideia da primeira estrofe, que diz que as coisas/objetos duram mais que os homens. Além disso, o eu-lírico coloca como se os objetos tivessem vida, pois "observam" os outros. Esse "(...) observando o pentear/ de quem se vai a cada instante" pode ser interpretado como as pessoas que deixam esta vida, ou seja, morrem, mas os objetos continuam lá.

E, por fim, o poema termina por dizer que embora nossa visão seja apenas material, lá fora, o mundo também é composto por coisas abstratas; no caso, é citado a tempestade, mas pode se pensar no tempo e nos sentimentos, por exemplo. Pode ser entendido que devemos olhar para o mundo com olhares abstratos também, olhares com sentimento, assim como o olhar do eu-lírico.

Uma outra questão que vale a pena refletir é que, no mundo, há coisas que são de natureza abstrata, por exemplo, as tradições, costumes e morais. Mas de tanta atenção e valor que os homens depositam, elas tornam-se quase "coisas concretas".

Há muitas regras/leis/costumes/tradições e morais que foram criadas há muito tempo e que são valorizadas até hoje (mesmo que discriminando muita gente), não mudam muito com o passar dos anos, os homens usam-nas, vivem-nas, morrem, e elas continuam as mesmas, assim como os objetos ditos na primeira estrofe.

Interessante pensar em como o homem, criador das coisas, tornou-se escravo das mesmas; se antes ele criava uma calça para lhe servir, agora ele faz regime e academia para servir na calça.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Diminuição da maioridade penal como salvação: um erro.

O povo brasileiro atualmente clama pela redução da maioridade penal para combater a violência, mas será que essa mudança diminuirá drasticamente o crime no Brasil? Sabemos que mudanças são necessárias, mas precisa-se pensar com cautela em todos os aspectos sobre o que vai ser mudado.

O que mais se ouve dizer é que um jovem que comete um crime sabe o que está fazendo, por isso deve ser punido como um adulto. O que as pessoas não percebem é que a quantidade de crimes cometidos por menores de idade são bem menores comparados com a quantidade de crimes realizados por adultos; logo, a mudança não faria tanta diferença.

Outro fator importante a ser ressaltado é a formação do jovem criminoso: Que formação ele tem? Como foi criado? Em meio a quê? Quem deveria tê-lo orientado eram os adultos, os pais, professores e pessoas conscientes. Se o ser não aprendeu que tais atos são errados, é por que não foi ensinado; só pode ser dito que foi ensinado algo, quando o outro aprendeu. 

Todo ser em formação precisa de auxílio. Fazer com que o jovem torne-se um adulto mais rápido só o deixará "independente", sem informações e noções do que fazer; é necessário que haja uma intervenção positiva na vida dele desde a infância. Segundo Aristóteles, o ser humano aprende imitando  então é correto afirmar que se o jovem tornou-se criminoso, é porque é reflexo do seu círculo pessoal e sociedade; sendo assim, o que deve mudar são as atitudes da sociedade inteira, é todo o sistema, e não a lei.

Em vista disso, é certo que diminuir a maioridade penal é um erro, pois o que deve mudar são as atitudes tomadas no meio dos jovens enquanto em formação; fazê-los refletirem sobre o que é certo ou errado. A questão não deve ser olhar e programar o fim do jovem, e sim, o início e o meio; em vez de olhar para a punição e aniquilação, por que não olhar também para a criação e construção? Diminuir a maioridade penal é querer livrar-se da culpa de ter criado criminosos.

Traição do "eu"

O que une as pessoas
é o sentimento de reciprocidade,
e não uma mera questão
de proximidade de idades.

O que sempre foi visto foi
uma preocupação com a moral.
Deixam de lado os sentimentos,
para parecer alguém normal.

E assim continua-se vivendo:
olhando para o outro,
mas a si mesmo... esquecendo.

Resenha do livro "A máscara no espelho", de Paulo Franco.

FRANCO, Paulo. A máscara no espelho – Uma antologia inacabada. São Paulo: Scoortecci, 2012. 153 p.

Este livro de poesia tem como base a reflexão sobre as várias facetas dos seres humanos; a observação das ações das pessoas para com o outro, além do sentimentalismo do poeta sobre alguns temas tais como: o amor, o afastamento do eu, a infância e até mesmo o ser poeta.

Em apenas 146 páginas, Paulo Franco distribui suas críticas, dúvidas, questões e sentimentos sobre o mundo e a vida em 100 poemas — considerados os “melhores” de outros livros já lançados. Sendo vários os temas abordados na obra, nesta resenha será tomado como objeto de análise apenas um deles: o “ser poeta”.

Partindo do poema “O Circo” (p. 91), aqui mostra-se o eu - lírico interpretado por um palhaço, podendo significar também o poeta. Ele diz que é a representação do que as pessoas são, e que ele não deseja ser – em alguns aspectos – como elas, ou seja, como seus leitores.

As ações do poeta/palhaço são suas poesias, inspiradas nas pessoas ao seu redor, na sua platéia. Em seguida, diz assistir a seus sonhos repetidos, sentimentos tediosos (“enfadonhos”) em que ele é um palhaço que se pinta por dentro para se esconder, isto é, um ser que não aceita ser como é, por isso se pinta por dentro também (porque por fora o palhaço já é pintado), para tentar enganar-se totalmente.

Fora dele há uma estrada que ele busca para não ser como sua platéia, que ele considera patética por rir dos seus atos, como se ele fosse diferente. Ora, ele nada mais é do que a representação dela mesmo.

Por fim, termina por dizer que as pessoas ao seu redor são “vulgares”, e que ele, eu – lírico/ poeta/ palhaço/ artista é um ser inconstante, volúvel,      que vê no vago um vazio intenso. Isso mostra que o poeta é um alguém realista, porque algo vago é algo vazio, então ele não inventa nada sobre a realidade, apenas descreve-a como ela é — talvez aqui o eu – lírico esteja se referindo à sua platéia como um vazio; que as pessoas ao seu redor não signifiquem muito para ele, que sua platéia é vazia. O interessante aqui (e que será visto em outros poemas do mesmo tema) é essa inconstância do ser poeta, esse conflito que sempre o acompanha.

Outro poema que se refere ao poeta é o “O louco” (p. 107). Aqui aparece um poeta em meio a um momento de inspiração, mas que não possui um lápis, então perde a chance de escrever o poema e modificar o mundo, pois sem o poema, nada foi acrescentado ao mundo, nada lhe foi mudado.

Depois ele descreve o cenário em que se localiza e compara os objetos ao seu redor com o poema que não foi escrito momentos antes, chamando-os de “fora de moda”, por estarem, ambos (os objetos e o poema), no passado. Então o eu- lírico poeta lança seu olhar para fora e avista um “louco” rindo, como se o motivo do riso fosse o poeta que teve seu lápis roubado.

O louco pode ser tratado tanto como a distração do próprio poeta, como também pode estar representando as pessoas más intencionadas da vida, que roubam o que é útil dos outros e ainda caçoam das vítimas. Outra questão que pode ser abordada é que quando o louco rouba o lápis do poeta, ele não rouba somente o lápis, mas todo um futuro que poderia ter sido criado a partir dele: as poesias, as ações, as interpretações e as emoções que seriam tiradas dos poemas escritos por aquele lápis. O louco rouba, ao mesmo tempo, algo concreto (o lápis) e algo abstrato (a poesia e tudo o que ela viria a criar nos outros).

Depois de ter sido roubado, o eu- lírico dirige-se ao computador sem medo (“impávido”) do que possa vir, como se estivesse atento para não perder as próximas oportunidades da vida; o louco ri novamente e vai embora, como se fosse um sonho, como se fosse o poema de outrora. Pode ser entendido nessa última estrofe que, às vezes, aparecem pessoas na vida que podem causar algum mal, e depois que elas vão embora, tornamo-nos mais atentos ao nosso redor.

Além disso, no início, o eu – lírico poeta havia perdido a inspiração para escrever o poema, mas a conseguiu novamente na perda, compondo esse novo poema, agora terminado (fazendo deste um meta-poema). E se tudo isso foi apenas imaginação do eu- lírico, o louco pode ser que seja ele mesmo. E, novamente, o poeta encontra-se em conflito e sozinho.

No poema “Planta” (p. 129), o eu - lírico começa descrevendo o cenário (“meus aposentos”), suas ações e sua recepção; no caso, enquanto ele alimenta as pessoas com poesia, as pessoas passam por ele se reclamando. Em seguida, diz ser uma planta de fé, que possui suas raízes fincadas no medo, na aflição e no nada.

Ora, a planta é algo natural e belo, então, o poeta afirma nessa estrofe que das coisas ruins (“aflição, medo e nada”) podem surgir coisas boas também, como a poesia. Por fim, diz estar plantado contra os sonhos, sendo atropelado pela própria estrada; ou seja, o poeta é alguém realista e as pessoas querem viver em ilusões (“sonhos”), por isso reclamam de onde ele está: no meio do caminho, um vaso no meio da estrada.

Isso mostra que o poeta está sempre contra as atitudes humanas e afirma o que já foi dito nos outros parágrafos e análises: o poeta está sempre em conflito, é realista e está sempre sozinho.

No poema “Semântica” (p. 137), é reafirmado tudo o que já foi dito nos outros poemas em que o tema é o próprio “poeta”. Novamente, mostra-se aqui o eu – lírico poeta em conflito. Com a espada de um guerreiro ateu, que, no caso, seria a palavra ou o poema, ele pode tanto atacar quanto se defender dos dogmas, preceitos, e conceitos religiosos que o cerca.

Depois, diz ver o mundo como um espelho antigo, angústia e solidão, retraída e muda. Pensemos: o espelho só reflete aquilo que é posto em sua frente, se ele é antigo e reflete tais coisas agora, é porque o mundo continua o mesmo de tempos atrás.

Em seguida, conta que seu verso não vale nada na luz, o que deixa a hipótese de que, talvez, na escuridão, ele valha muito; que seus versos não são feitos para aqueles que estão bem, e sim, para os que precisam de ajuda, que se encontram na escuridão.

O eu- lírico afirma na próxima estrofe que a rima dele é uma estrada que torna a vida mais fácil de ser digerida, com isso, conclui-se que a vida não é fácil de ser vivida, que seus versos, poemas e rimas são uma antecipação da vida — assim como qualquer verdadeira obra de Literatura — e que, se sua rima é uma estrada, além de ser uma antecipação que o poeta traz para o leitor, pode ela já ter sido criada por outras pessoas.

Para fechar a ideia de “o que é ser poeta”, o eu- lírico diz que essa é a sua semântica: medo, solidão, ilusão, espírito e algo a mais que ele pode pressentir na escuridão em que se encontra. Coincidindo com o poema “Planta”, os dois afirmam que no seu interior (no caso da planta, as suas raízes) estão o medo, a solidão, o nada e suas ilusões, mas que nada disso é certeza, pois o eu- lírico apenas pressente, não pode afirmar, pois está envolto na escuridão, na incerteza. Tudo isso ressalta o quanto o poeta é inconstante, é volúvel (como também é dito no poema “O Circo”) e  realista.

Em suma, A Máscara no Espelho é um ótimo livro de poesia moderna, que busca trazer para o leitor várias reflexões sobre muitos temas. Escrito de maneira simples, o que pode dificultar a compreensão do poema é a forma de interpretá-lo, pois depende da vivência e visão de mundo de cada um. É recomendado para os alunos de Letras ou amantes da Literatura em Poesia.

O autor, Paulo Franco, é um escritor contemporâneo, vencedor de vários prêmios literários dentro do país.

Antônio Carlos da Silva Siqueira Júnior, aluno do curso de Letras, em IESA, Santo André – SP.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Pequena Reflexão

Muitos dizem que o começo de todas as relações (sejam de amizade ou amorosas) são um mar de rosas, mas que depois mudam, as rosas murcham.

Isso é uma alerta que nos deixam. O pior é que todos sabem do que as rosas necessitam para continuarem vivas, mas deixam-nas morrerem (mais cedo).

Talvez seja a falta de tempo (como se alguma vez alguém tivesse tido o tempo...) das pessoas modernas para cuidá-las: rosas de plásticos dão menos trabalho e enfeitam os lugares da mesma forma, muitas vezes, ainda são mais bonitas e duram para sempre  justamente por não terem vida.