sexta-feira, 29 de julho de 2016

Uma pequena reflexão #6: Ausência, presença, consciência e sofrimento.

Meu pai e irmã viajaram recentemente, mesmo sabendo que, possivelmente, fariam muita falta, não tanto para mim e para a minha mãe, que compreendemos os motivos, mas para o Rambinho, o cachorro.

A ideia que ficou enquanto não saíam é a de que ele sofreria com a ausência, pois os dois eram os mais próximos dele. Então, no dia da partida, pediram para eu ir caminhar com Binho (este é um de seus apelidos, assim como o “Zinho” — há vários outros, todos no diminutivo), para que não fossem vistos indo embora. Fomos. Cada um para um lado diferente.

Hoje, passado alguns dias, percebo que não houve tanta falta assim. O apego que havia para com eles passou para mim. Levamos (eu e ele) a nossa mãe até o ponto de ônibus todos os dias e foi aqui que notei algo interessante.

Assim que vejo o ônibus chegar, já me despeço e continuo o passeio com o Zinho. Logo no primeiro dia que levamos a mãe para o ponto, quando o ônibus passou por nós, Rambinho olhou para trás, para onde estávamos, para o ponto. Não somente uma vez, mas até terminarmos aquela rua. Era como se dissesse: “Onde está a mamãe? Ela estava com a gente até agora”.

Impossível ficar sem lembrar das pessoas que perderam alguém, parentes, amigos ou conhecidos, em questão de segundos ou minutos, seja porque morreram em acidentes ou porque sumiram.

Os animais, em geral, sofrem sem saber o motivo (o que para alguns filósofos é o pior tipo de sofrimento), por falta de consciência, mas o ser humano sofre mais, por conta de ser o único animal metafísico. Somos metafísicos por causa de nossa mente e de nossa linguagem, que permitem que pensemos e falemos sobre o passado, presente e futuro (mesmo ele não existindo).

Não só isso, os animais, se sentem culpa de algo, é por terem-no feito. Nós, não. Sentimos culpa por ter agido e por não ter agido; sentimos medo por algo que não aconteceu (ainda) e acreditamos no que não existe (toda fé e esperança só os são por não serem certeza — positiva ou negativa — ainda; toda fé/esperança é uma negação da mais possível realidade). Quantas vezes perdemos tempo lembrando e sofrendo por algo que não foi dito, tocado ou ouvido? 

Em alguns momentos também somos como os animais: sofremos sem saber o motivo. É a ausência da percepção da realidade; é a carência de consciência; é a alienação; é a falta de informação e de ferramentas para aprender a se perceber e ver o que nos cerca.

Termino a reflexão revelando que, assim como o Binho ficou olhando para o ponto de ônibus onde estava a mamãe, no dia em que meu pai e minha irmã saíram, quem ficou olhando para trás, até desaparecerem de vista, mesmo tendo consciência do que estava acontecendo e do que acontecerá (sua volta, em breve), fui eu. 
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