Hoje é o Dia das crianças e o que eu menos
vejo são elas (por vários motivos, um deles é estarem trancadas no quarto
jogando videogame ou olhando para uma tela de celular). Claro que existem, mas
apenas de corpo e mente, não mais de espírito. Sempre houve crianças querendo
tornarem-se adultas mais rapidamente, no entanto, hoje, além desse tipo, há um
outro fenômeno: adultos com mente e desejo de serem crianças.
É comum o ser humano idealizar e romantizar o mundo, ver
as coisas como perfeitas ou infalíveis, e isso aplica-se ao passado e à
infância. Com frequência ouvimos frases como: “Tempo bom que não volta mais!”
ou “Eu era feliz e não sabia!”, ou ainda: “Aquilo sim era perfeito! Só
brincadeiras, só prazer, a única preocupação era os estudo...”. E claro: a
vontade de voltar no tempo.
Tudo bem em sentir saudades de uma época, mas sem exageros.
Tínhamos obrigações, tínhamos restrições, tínhamos medo; não tínhamos dinheiro,
não tínhamos (muita) liberdade, não tínhamos experiência, etc. Os que clamam
pelo passado percebem que tínhamos muito do que não temos hoje, mas ainda falta
perceberem que não tínhamos muito do que temos atualmente.
Enquanto isso, temos cada vez mais crianças se vestindo e
querendo agir como adultos, e os adultos, como foi dito, querendo ser, agindo e
pensando como crianças, também sem o espírito, apenas na infantilidade. Os fatores
mais importantes das crianças que faltam aos adultos são a curiosidade e o
questionamento, este é o espírito que as caracterizam. De resto, os adultos possuem
tudo: brigam por qualquer besteira; não discutem/conversam, tudo baseia-se na
vontade e no gosto pessoal; riem de tudo (o que mais se vê na internet é “kkk”) — aliás, é preciso dizer que sempre buscamos o que não temos, logo, se buscamos rir a todo momento, isso demonstra que temos uma vida bem triste —, etc.
Há algumas frases interessantes sobre essa relação
criança-adulto, uma delas é do filósofo Nietzsche (2013), que diz: “A maturidade do
homem consiste em ter reencontrado a seriedade que tinha nos brinquedos quando
era criança.” (p. 100). Aliás, os adultos precisam voltar a ler
(e as crianças começarem a ler). Uma outra frase, da internet, diz: “A criança que você foi teria orgulho do que você se
tornou?”
Interessante pergunta, mas retórica. A criança que fomos
não tem (ou teria) ideia do que somos. O que ela tinha era uma idealização baseada em uma existência de pouca experiência — comparada a de um adulto —,
por isso é criança.
Se você se decepciona ao imaginar o que a criança pensaria de seu estado atual, sente vontade de voltar no tempo e viver de novo, acha a infância perfeita, etc., é sinal de que você cresceu sem progredir. Se ainda carregasse o espírito da criança dentro de si, olharia para o presente e futuro, pois quem olha muito para o passado é quem acha que já viveu demais ou se vê incapacitado de viver o agora e o amanhã. Crianças sempre estão a aprender, já quem estagna-se... — ou, talvez, voltando à infantilidade, você tenha sido o tipo de criança que apenas chora?
Se você se decepciona ao imaginar o que a criança pensaria de seu estado atual, sente vontade de voltar no tempo e viver de novo, acha a infância perfeita, etc., é sinal de que você cresceu sem progredir. Se ainda carregasse o espírito da criança dentro de si, olharia para o presente e futuro, pois quem olha muito para o passado é quem acha que já viveu demais ou se vê incapacitado de viver o agora e o amanhã. Crianças sempre estão a aprender, já quem estagna-se... — ou, talvez, voltando à infantilidade, você tenha sido o tipo de criança que apenas chora?
Referências
NIETZSCHE, Friedrich W. Além do Bem e do Mal. São Paulo: Editora Escala, 2013.