“Aniversário”, etimologicamente, “Aquilo que volta todos os anos”. Por
isso, cá estou escrevendo mais um texto sobre esta data que não pode passar
batida, na verdade, como nenhum outro momento do dia, da semana, do mês, da
vida, pois, como escreveu Marina Colasanti: “Sou meio impaciente / a vida é um
prato / que se come quente.” (2013, n.p.). Não se pode deixar esfriar o
momento.
Leio, utilizo e tento escrever poesia (às vezes, em prosa...), portanto,
para não deixar não só a data, mas a minha existência passar em branco, pois
“Não morre aquele / que deixou na terra / a melodia do seu cântico / na música
de seus versos.” (CORALINA, 2008, p. 239); versos de uma arte que, muitas
vezes, “nem mesmo / codifica a luz do dia, / mas que a alma intensifica, / já
que a vida é passageira, / mas a poesia fica!” (FRANCO, 2017, p. 46).
Não gosto nem desejo frios parabéns de desconhecidos ausentes-presentes,
artifícios de pessoas de relações super e artificiais. Carlos Drummond de
Andrade tem um poema chamado “Idade madura”, penso não estar nela ainda — e
talvez nunca estarei —, mas concordo que “Já não quero palavras / nem delas
careço.” (2010, p. 39). Quero criar realidades e gravar memórias que viverão
para sempre: “eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo / mas com
tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata (DRUMMOND, 2010,
p. 301).
Para isso, não é preciso esperar pelo aniversário; e nesse, como já
disse em outras oportunidades, todavia não com estas próximas palavras, é
necessário que se “Vença o ideal de andar caminhos planos” (MORAES, 2009, p.
271). Sim, a vida não é plana, está “sempre dividida / Entre compensações e
desenganos.” (idem, ibidem), o que não é perfeito, claro, posto que perfeito,
até pela origem da palavra, significa algo “feito completamente”, efeito que
não se aplica ao ser-humano, que está sempre em construção, desconstrução,
reconstrução etc.
Daqui a um tempo, desconstruído e reconstruído de novo, quero acreditar
que meu eu do amanhã conversará com meus outros eus sobre o nosso futuro presente
e juntos possivelmente pensaremos: “Velho, saca só esse moleque! / Fazendo seu
caminho pelo mundo / Cada vez que volta / Tá cada vez mais longe / Cada vez
mais.” (GESSINGER, 2013). Quem sabe. Espero. Tentarei.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 65. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2010.
COLASANTI, Marina; GRILO, Rubem. Classificados
e nem tanto. 5. ed. Rio de Janeiro: Galerinha Record, 2013.
CORALINA, Cora. Melhores poemas.
3. ed. São Paulo: Global, 2008. (Coleção Melhores Poemas)
FRANCO, Paulo. A Rua dos Dias. São Paulo: Scortecci, 2017.
GESSINGER, Humberto. Segura a
onda, DG. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=7rHPkSmNiwo>. Acesso em: 18 maio.
2019.
MORAES, Vinicius de. Antologia
poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.