O texto abaixo é de um amigo que pediu um espaço no meu blog para
escrever e postar este pensamento que ele possui. As palavras, reflexões e
concepções sobre o tema são inteiramente dele. Espero que gostem.
Por que o termo "Cinema de Arte" pode ser tão nocivo?
Por Luke Muniz
Antes de mais nada, queria deixar claro
que este texto nada mais é que uma opinião bem particular
minha e que não se trata de nenhum tipo de artigo acadêmico ou algo parecido.
Não se preocupem, não o encherei com referências ou nomes bonitos -
talvez um ou outro, para dar um up no texto. Em fato,
redijo aqui esse pensamento motivado por nada mais nada menos que por
pura stream of consciousness minha, e também lembrando de
discussões sobre cinema com amigos.
Deixando claro que isso não é uma regra, estou expondo um
pensamento com intuito de discutir e, assim, gerar troca de
experiências e aprendizados; falar besteira é normal, e provavelmente o farei
durante essas X quantidades de palavras que irei digitar por aqui. Então, vamos
ser tranquilos e debater com educação, ok? Concordar é ótimo, mas discordar
promove trocas etc. Vamos para o que de fato interessa.
Quando falamos de clássicos cinematográficos, sempre aparecem nomes
conhecidos como: “2001: Uma Odisseia no Espaço”, “Cidadão Kane”, “Pulp
Fiction”, “O Poderoso Chefão” e por aí vai, dos mais antigos até os mais
contemporâneos. E não só filmes, mas também seus diretores, as mentes por
trás das obras: Kubrick, Tarantino, Spielberg, Hitchcock,
Scorsese e tantos outros. Tendo consciência de que essas figuras se
destacam, algo eles fizeram para serem tão reconhecidos, fazendo sua arte
brilhar dentre tantas e pensar além de seu tempo. Quando o assunto “clássicos”
surge, eles marcaram e definiram aspectos para os seus gêneros e para o cinema
como um todo, é inegável.
Mas sempre que se trata do cinema autoral (sim, eu prefiro esse termo,
de longe) surge a aura maldita do termo “Cinema de arte”. Essa “taxonomia” é
carregada e extremamente pedante, além de que, trata-se de uma segregação
que não faz o menor sentido, tanto na prática, como conceitualmente falando. Em
toda ocasião, quando o termo surgia, eu sentia uma cerca enorme ser
criada, eu mesmo já falava disso quando queria me referir uma obra mais cult, e
antes de mencionar, sempre deixava claro meu desprezo por essa taxação.
“Arte sf 1. Capacidade
de expressar uma ideia, empregando algum material que possa ser trabalhado
– a arte de um pintor. 2. Prática de atividade que depende da inteligência
e da habilidade - a arte de um médico/a arte de um pedreiro.”
Geraldo Mattos – Dicionário JÚNIOR da língua portuguesa.
Geraldo Mattos – Dicionário JÚNIOR da língua portuguesa.
Vamos por conceito: Não sei vocês, mas o Dicionário Júnior já
me deixou bem claro que qualquer coisa que você empregar um valor artístico,
dentro dos conceitos que aquela obra em específico abrange, será arte. Claro
que ela, por si só, é extremamente subjetiva, do modo de criação até
o de apreciação, mas existem moldes de avaliação, como, já cito, o do
cinema, que observa fotografia, roteiro, atuação, direção
etc. Esses são os aspectos técnicos que compõem qualquer
obra cinematográfica. Assim como a música, que tem que ter melodia,
ritmo, voz (ou não, no caso das instrumentais). Descartando qualquer valor de
qualidade, de bom ou ruim, se um produto segue as “normas” do seu segmento
artístico específico, ELE É ARTE.
“O
conceito de cinema de arte é um tanto vago, tanto quanto a sua história. É, todavia, do conhecimento geral que o termo se refere
a obras apreciadas pelo seu valor artístico e não como passatempo lucrativo, a filmes que
sobrevivem à avassaladora maré das produções de Hollywood, ao “mainstream”, ao cinema
industrial cujo objetivo é o lucro. É, na sua essência, um cinema que se preocupa
com a condição humana e a aborda numa perspectiva ética, que não é descartável da estética, tanto em criações de baixo
orçamento (low budget films) ou de nenhum orçamento (no budget film) como
em projetos de elevado custo de produção.”
Fonte: Wikipédia
Há quem ache que justificar algo dizendo que é a “Proposta” possa soar
preguiçoso ou algo semelhante. Concordo, mas há casos e casos. Ressaltando o
conceito que atribuem ao termo “Cinema de Arte”, podemos perceber
que, com apenas uma pesquisa rápida, reitera-se o fator
“segregação”. O cinema dito “lucrativo” e de “passatempo”, os famosos blockbusters, não
se limita a só isso. Não irei longe para citar um exemplo
que de cara quebra todo esse paradigma insolente.
Dirigido por Ryan Coogler, em 2018 chegou aos cinemas o maravilhoso
e importantíssimo “Pantera Negra”. Se você possui alguma rede social, deve ter
visto centenas de publicações ao redor do mundo com a comoção do filme e pela
representatividade que este carrega consigo. Lembrando: Um filme blockbuster.
Mas destaco aqui o valor deste filme - que dizem não ser arte... Faça-me o
favor! -quando li uma notícia que circulou em vários veículos, de um
garoto de 15 anos que resolveu voltar a estudar por conta de ter assistido
e se inspirado no protagonista T’Challa. É um caso lindo, e deixo aqui um
link para saber mais: https://omelete.com.br/filmes/noticia/pantera-negra-adolescente-decide-voltar-a-estudar-apos-assistir-ao-filme/
(Pantera Negra, de 2018)
O valor que isso tem é inestimável. O efeito que a obra causou na vida
dessa pessoa já vale mais que os orçamentos exacerbados de filmes que “não são
arte”. E ressalto, de novo, um “blockbuster”. Ano passado, tivemos
“Mulher Maravilha”, dirigida por Patty Jenkins, outro grande marco no cinema
que “não é de arte”, por sua representatividade feminina e por seu simbolismo.
Eu disse que não iria mais longe, mas tenho de ir. O que seriam dos
conceitos de amizade que reverberam na memória de muitos se não fossem as
aventuras dos anos 80? A escola Spielberg de produção, de garotos e
garotas numa aventura contra o mal e descobrindo que a união faz a
força e que a segregação só enfraquece. Filmes de apenas “entretenimento
barato”. Entretenimento barato existe? Claro que sim, é óbvio. Abra qualquer
filme do Adam Sandler. E até o Adam Sandler consegue arrancar uma mensagem
bastante interessante, “Click” está aí para provar isso.
O recente programa (2016), feito pela TV Quase e exibido no canal do
Omelete, “Choque de Cultura”, ganhou um público gigante de fãs
e não-fãs de cinema. São motoristas de transporte alternativo, que se
juntam em um estúdio e discutem obras cinematográficas, desde a mais cult até a
mais “não cinema de arte”. Os personagens, Rogerinho do Ingá, Renan, Maurílio e
Julinho, tratam das obras diante das perspectivas de suas
vidas e de quem eles são. Logicamente, algumas posições tendem aos
exageros, mas isso ocorre para efeito cômico, que é o viés
principal do programa.
Entretanto, dentro do tema que abordo aqui, "Choque de
Cultura" é uma metalinguagem disso tudo, pois são pessoas que não são
cults, mas que assistem a filmes assim, e os tratam, na hora de avaliar, da
mesma maneira dos que "não são arte". E eles não motoristas de van,
cinéfilos, consegue entender? Não conseguimos imaginar um motorista de van que
seja cinéfilo, mas quem disse que não pode existir? E só pelo fato de já estar
assistindo a filmes e discutindo sobre eles, já é maravilhoso.
Todo filme é arte. Bom ou ruim. É arte. Entender isso é fundamental.
Gosta de filmes? É cinéfilo? Tenho certeza que, mesmo que não o seja, já
deve ter visto algum filme que deixou alguma mensagem marcada (e uma que seja
positiva). Nenhuma delas, estou certo disso, era sobre separar.
Não é só um termo para definir filmes com assinatura própria, se
for por isso, existem nomes melhores para tal, como, por exemplo: “Filme
com diretor de assinatura”. Olhe aí, que beleza de nome. Não
segrega, não é nocivo, mas agrega. É essa mensagem que a arte e
o cinema espalham em muitas de suas obras: União. Da comédia romântica mais
boba até uma Magnum opus de Scorsese. Em suma, sempre é algo voltado para
o ser humano; alguns, em níveis mais aprofundados; outros, melhores discutidos,
alguns, nem tanto, mas a intenção é a mesma. Cinema é Cinema. Cinema é arte.
--
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom, um texto maravilhoso. Falo com tranquilidade.
ResponderExcluirBom texto e boa proposta, Luke. Concordo que toda obra possui algum ponto positivo, todavia, não penso que qualquer obra seja arte, principalmente a pós-moderna.
ResponderExcluirClaro que cada área artística possui suas particularidades, como você apontou as do cinema, por exemplo, "fotografia, roteiro, atuação, direção etc". Considero-as como objetivos "específicos", mas também penso que há os gerais, presentes em todo tipo de arte: originalidade do conteúdo e da linguagem, esforço para ser realizada e plurissignificação. Nas artes que envolvem narrativa ainda há as dimensões dos personagens.
Não digo que esses fatores separam o "cinema" do "cinema de arte", mas são qualidades que, ao serem aprofundadas, diferenciam um do outro.
O que acontece é que todos podem usar a mesma linguagem para criar e comunicar algo, mas uns fazem de forma melhor que outros. Na minha área, que é a literatura, por exemplo, qualquer um pode escrever versos, mas poucos fazem poesia com eles.
Não vou entrar na questão de visão de lucros ou de educação/formação dos autores e dos consumidores, porque não sou entendedor de arte, mas penso que há ligação desses quesitos com o produto final. Eu concordo e discordo de alguns pontos do seu texto, mas o melhor, mesmo, é ele propõe reflexões.
Obrigado pela confiança de postar a sua ideia no meu blog e por estar aberto às trocas. Continue escrevendo!
"(...) mas o melhor, mesmo, é que ele propõe reflexões."***
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