Há pessoas que são muros e há outras que são
pontes — em diversos sentidos.
Em dezembro de 2006, no finzinho da sexta
série, o meu melhor amigo foi embora para a Bahia, pois os pais dele são de lá e
queriam morar na cidade natal (na verdade, a cidade natal do pai...).
Continuamos a nos falar pela internet, embora, no começo, para isso, eu tivesse
que ir para as lan houses (muitos
jovens nem sabem o que é ou o que foi isso). Só alguns anos depois, em 2008, é
que fui ter um computador e uma internet própria (do tipo discada!).
Com essa falta, aproximei-me de outras
pessoas, tive novas, boas e ruins experiências. Foi durante essas más relações
que notei que existem pessoas-muro, pessoas fechadas em si e que tentam fechar
o outro também. Para elas, se somos amigos, até podemos ser amigos dos seus
amigos, mas não podemos levar os nossos próprios para este novo círculo. Isso acontece
frequentemente em relações amorosas (o que nunca foi o meu caso).
E sobre os muros, há os fortes e os fracos. Estes, feitos de vidro, qualquer coisa é capaz de quebrá-los. Não precisa ser uma
pedrada, basta uma palavra ou um olhar. São ultrassensíveis. Devemos ter cuidado com essas pessoas, mas nem por isso devemos
deixá-las sozinhas, dentro de suas muralhas. Aproveitando-nos da característica
do vidro, a transparência, podemos aparecer em sua frente e acenarmos, para que
possam nos ver e verem que há pessoas ao seu redor. A não ser que, por dentro,
o dono tenha colocado cortinas escuras, para também não ver ninguém...
Por outro lado, há as pessoas-ponte, que foi
o que imaginei quando o meu amigo voltou para São Paulo, neste mês de abril, para
passar umas férias. Vieram ele e o irmão.
É que ele foi embora há 11 anos, mas a
história dele comigo e com a turma não acabou ali, continuou sendo escrita, por
outros meios, mas continuou, tijolo por tijolo. Ainda não está acabada, mas não
está parada: está em construção.
Não foi a primeira vez que ele veio passar
umas férias aqui, mas cada vez que vem, conhece mais pessoas do nosso círculo
(cada vez mais expandido), além de, unicamente pela sua presença, reunirmos
parte da turma que estudou junto na 5° e 6° série A, nos anos de 2005 e 2006,
na escola Di Cavalcanti. Hoje, todos com suas vidas distanciadas, mas que se
juntam para relembrar histórias, narrar a continuidade etc.
Acho isso fantástico: pessoas que são pontes
entre outras pessoas, entre histórias, entre lacunas no e do tempo, entre
algumas relações que, por causa das novas situações cotidianas, vão se perdendo...
E, claro, por serem pontes, levam-nos à frente, permitem-nos caminhar e crescer
enquanto elas também crescem.
Com essa vinda do meu amigo, fiquei mais
próximo do seu irmão, que era bem pequeno quando foi embora (lembro até
hoje...), retomei laços com outros amigos que há tempos não os via, relembrei
histórias que não recordava (e isso porque eu já tenho uma ótima memória!),
rememorei bons momentos que os colegas haviam esquecido, visitei lugares que
nunca havia ido, conheci e ri com seus amigos (que não eram meus), passamos
momentos com outros meus (que não eram da época dele) etc.
Enfim, penso ter havido um crescimento e
fortalecimento mútuo. Às vezes, precisamos dessas visitas para que possamos
caminhar um pouco mais e melhor.
Ao meu jeito, tento criar pontes entre as
pessoas através das palavras (o escritor é um construtor de pontes, de experiências
e de sentidos múltiplos). Ao menos como lembrança e agradecimento.
Que esse texto seja mais um bloco na construção de nossa amizade.
Que esse texto seja mais um bloco na construção de nossa amizade.
Humildemente,
Um amigo e futuro escritor.