Há
uma história na internet de que, uma vez, alguém perguntou para um velho sábio
quantos anos ele tinha, ao que o mestre respondeu:
“Oito
ou dez. Tenho, na verdade, os anos que me restam, porque os já vividos não
tenho mais.” — algo assim.
Embora
não haja um autor definido, atribuem essa fala ao pensador Galileu Galilei. Sei
que todos podem se equivocar ou julgar se algo é correto ou não, mas espero que
a frase não seja dele. A resposta do sábio pode parecer lógica, mas não o é.
Não
perdemos os anos vividos, pelo contrário, estão sempre conosco: adquirimo-los, guardamo-los,
ampliamo-nos com eles, usamo-los quando aplicamos o que aprendemos ao longo do
tempo. Como é dito na música Além da máscara, do projeto Poucal Vogal, do Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii): “Não há tempo perdido, não há tempo a perder”.
Seria mais bonito e poético, para mim, se o sábio tivesse respondido que não
sabia a própria idade, que o que ele tinha era a dúvida...
Sou
da opinião de que “Cada dia que passa / eu fico mais jovem” (TRINDADE, 2011, p.
57), como escrevi no ano passado (embora, na época, ainda não conhecesse esses
versos, nem esse nosso poeta); concordo com o fotógrafo Jacob Riis (apud CORTELLA, 2015, p.
69): “‘(...) olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes
sem que uma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada,
a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu, mas todas
as que vieram antes’”. Como pode alguém acreditar que não tem os anos passados,
mas os futuros? Do amanhã só temos ideias, incertezas e planos — o que já é
muito bom e importante.
Fiz
aniversário hoje e não consigo concordar com a lição do antigo homem, nem sou
capaz de discordar do meu mestre pessoal e espiritual, Mario Quintana, que diz
que “O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...” (QUINTANA, 2003,
p. 64). Aliás, o mesmo poeta tem um texto, no mesmo livro, chamado “Pensamento
para o teu aniversário”, no qual ensina: “Nem todos podem estar na flor da
idade, é claro! Mas cada um está na flor da sua idade...” (idem, ibidem, p.
78).
Cito-o,
porque fazer aniversário também é conhecido como “completar primavera”, que é
conhecida como a estação das flores, que, por sua vez, são sinônimas de beleza.
É preciso ver a vida, os anos, os dias, quaisquer que sejam, com mais atenção. Se não temos as
grandes e melhores características dessa estação do ano, mas, por outro lado,
temos a marca da passagem, que saibamos (ou lembremos), então, de que um buquê
é formado por várias flores, e estas têm sementes ou podem servir como mudas,
e esse produto final, de beleza singular, possui uma história que foi cultivada há anos...
REFERÊNCIAS
CORTELLA,
Mario Sérgio. Não nascemos prontos!:
Provocações filosóficas. 19 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
POUCA
VOGAL: Gessinger + Leindecker. Além da
máscara. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8HEzQQ5FAA0>.
Acesso em: 19 maio. 2018.
QUINTANA,
Mario. Caderno H. 9 ed. São Paulo:
Globo, 2003.
TRINDADE,
Solano. Poemas antológicos. 2 ed. São
Paulo: Nova Alexandria, 2011. (Coleção Obras antológicas)