Memorial da minha relação com a banda Engenheiros do Hawaii e o Humberto Gessinger
Lembro que foi em 2005, numa rádio qualquer
(sei que não era a KISS FM, porque
essa eu conhecia e ouvia), escutei uma música que dizia: “Nós dois temos os
mesmos defeitos, / sabemos tudo a nosso respeito, / somos suspeitos de um crime
perfeito, / mas crimes perfeitos não deixam suspeitos”. Fiquei encantado, mas
não sabia por quem, pois não foi dito o nome da música nem da banda. (Por
acaso)
Fui para a escola (Di Cavalcanti) com o
trecho memorizado e a dúvida internalizada. Perguntei aos meus amigos da minha
sala (5° série D) se conheciam a canção, mas nenhum deles soube me responder
(houve até quem cogitou ser do Roberto Carlos! — nunca esqueci essa hipótese
que nem deveria ser considerada hipótese). (Nada a ver)
Coincidentemente, no mesmo ano, o meu pai
pediu para um amigo gravar várias músicas do rock nacional num CD. Tenho-o até
hoje (mas acho que nem funciona mais). Na gravação, havia Titãs, Paralamas do
Sucesso e Engenheiros do Hawaii. Gostei muito da primeira e da última banda (a
do meio, não). Em seguida, meu pai pediu para a minha mãe comprar algum CD dos
Engenheiros do Hawaii (havíamos acabado de comprar um do Raul Seixas, uma
coletânea). Ela nos trouxe o Tchau Radar!
Lembro que ele não gostou muito, pois, como eu, também estava começando a
conhecer, mas ele já conhecia as mais famosas (embora não soubesse os nomes
delas, nem em quais álbuns elas estavam inseridas). (Lado a lado)
Ouvi muito esse álbum. Achava a abertura daquela
primeira faixa, Eu que não amo você, pesadíssima!
Mal sabia eu que, anos mais tarde, o Metal se tornaria o meu gênero musical
preferido. Eu não conhecia ninguém que também gostasse da banda. Ouvi-a sozinho.
Na época, o que fazia sucesso na turma era algo que chamávamos de Black. (Quem diria?)
No ano de 2006, porém, tive a oportunidade de
fazer todos os meus amigos (e os “inimigos" também) da sala ouvirem aos
Engenheiros — hoje em dia, infelizmente, sou obrigado a ouvir música porcaria
por todos os lados, já que há um pessoal que adora ouvir os seus batidões com o autofalante (agora se
escreve assim, gente). Foi quando, na escola, a minha professora Edimara, de
Educação Artística, pediu para que todos levassem uma música que gostássemos
muito. Ouviríamos todas. Alguns levaram Pitty, poucos levaram Raps, a maioria
levou Blacks da época, e eu levei a Cruzada, última música do Tchau Radar!,
que na verdade é um cover (na época, eu nem sabia). Todo mundo estranhou aquele
início, aquela orquestra sombria. A professora adorou, disse que era fã do
Humberto Gessinger. Nunca esqueci a aula. (A maioria esqueceu tanto da aula,
quanto da música que levou, pois não a ouve mais.) (Exército de um homem só I)
Passaram-se dois anos e eu fiz amizade com um
menino um ano mais novo do que eu, o Leo(nardo Mendes). Em 2008, quando o meu
pai comprou um computador, o Leo foi o responsável por me passar muitas músicas
de bandas e gêneros que eu não conhecia. Adorei várias bandas (Ozzy Osbourne,
Metallica, DIO, Motorhead — anos depois, cheguei a ver ao vivo o primeiro e o
último — etc.), já de outras, não gostei (Alice in Chains, KISS, System of a
Down — hoje em dia, gosto dessa última — etc.)... Lembro que era o primo dele,
o Ailton, que passava as músicas para ele, que, em seguida, me passava. (Novos
Horizontes)
Pois bem, desde criança, eu já ouvia muito
Raul Seixas e Engenheiros do Hawaii (e Led Zeppelin, ACDC e Pink Floyd), mas eram
poucas músicas... Foi, então, com esse amigo, que eu me aprofundei nas obras.
Se antes eu “somente” gostava muito, depois de conhecer mais músicas, virei fã.
(Hora
do mergulho)
No entanto, algo interessante e triste: eu
não entendia muito bem as letras, só as passagens mais óbvias — e isso em
qualquer banda. Era mesmo apaixonado pelo ritmo e melodia. Só quando comecei a
estudar de verdade, na faculdade, em 2014, que descobri a Poesia, a Literatura,
algumas técnicas dessas duas artes, alguns autores e suas obras, aprendi
a relacionar o objeto com o seu contexto etc., só depois de tudo isso é que percebi
o quanto as músicas dos Engenheiros do Hawaii e do Raul Seixas eram profundas e complexas,
o quanto havia de citação implícita e explícita. Mais uma evolução: se a
criança gostava muito e o adolescente virou fã, o jovem adulto virou amante. (Pra ser
sincero)
Desde então, sempre que posso, escrevo
algumas impressões que tenho sobre uma ou outra canção, sempre com algo mínimo
de embasamento, um artigo ou um livro. Fiz algumas “análises” que foram e são
elogiadas por outros admiradores da banda até hoje (gente bem mais velha do que
eu, que acompanha o Humberto há anos). Fico bastante contente. De vez em
quando, também pesquiso o trabalho de outras pessoas sobre o que gosto. Sempre
aprendo algo novo. (Pra entender)
No ano passado, 2016, aprendi muito sobre a
banda, graças a uma querida amiga. Ela se chama Jéssica Tasso e mora no Rio
Grande do Sul (e eu em São Paulo). Encontramo-nos no ano passado e ela me deu a
nova “biografia” dos Engenheiros do Hawaii (coloquei entre aspas porque o livro
traz a história do início da banda até o rompimento da formação clássica,
Gessinger, Licks e Maltz, nada além). Com ele, aprofundei-me. Creio que o meu
melhor texto, a minha melhor análise, a da música Nossas Vidas, foi feita após isso. (Ela sabe)
Ontem, 27/05/2017, assisti a um show do
Humberto Gessinger pela primeira vez, junto do amigo que me passou a
discografia dos Engenheiros. Momento mágico. Por isso que me lembrei de todas
essas histórias. A turnê faz comemoração ao álbum A revolta dos Dândis (que é título de um capítulo de um livro do
filósofo Albert Camus), segundo álbum da banda, lançado em 1987. (Outros
tempos)
Foi muito bonito ver todo o pessoal cantando
em alto e bom som quase todas as músicas. Eu sabia todas, porque sou viciado. O
nome da tour é muito significativo: Desde aquele dia. Esse é o título de uma
música do álbum homenageado, mas também é fundo do novo trabalho do Humberto: Desde aquela noite. Agora, para mim, ambos os
nomes são importantes: o dia que conheci (em 2005) e a noite que constatei o espetáculo (2017), que para sempre será lembrado. (Túnel do tempo)
Não há o que falar mal da banda, um trio
incrível: o baterista Rafael Bisogno, que além da bateria, toca outros dois
instrumentos que não sei o nome (desculpem), todos com batida (um deles parece
um tambor e o outro parece um teclado pequeno); Fernando Peters na guitarra
(muitos o criticam, mas é um excelente guitarrista, que preza pelo feeling); e o gênio Humberto Gessinger,
que canta, toca baixo, teclado, gaita e acordeon — além de ficar improvisando as
letras da música, para a (des)graça de quem tenta acompanhá-lo certinho. Arrepiei em várias músicas, mas principalmente na Quem tem pressa não se interessa e na Guardas da fronteira. O setlist de ontem (houve mashups, então colocarei na ordem) foi:
A
revolta dos dandis I
Infinita
Highway
Até
o fim
Infinita
Highway
Quem
tem pressa não se interessa
Vozes
Terra
de gigantes
Vozes
Terra
de gigantes
Desde
aquele dia
Além
dos outdoors
Guardas
da fronteira
Refrão
de um bolero
Piano
bar
Filmes
de guerra, canções de amor
A
revolta dos dândis II
Eu
que não amo você
Alexandria
O que
você faz à noite
Surfando
Karmas e DNA
Olhos
abertos
Pose
(anos 90)
Somos
quem podemos ser
3X4
Dom
Quixote
Exército
de um homem só I
Era
um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones
Vida
real
Bora
Faz
parte
Pra ser
sincero. (Terra de gigantes)
Há tantas dos lado B que eu adoro e que ficaram
de fora... (Sob o tapete)
Este texto é um agradecimento a todos aqueles
que me ensinam, me ensinaram, me proporcionam e me proporcionaram prazer e
conhecimento sobre esse artista e sua banda, que eu amo (ao lado das bandas de Heavy Metal). Na internet, muitos já me
disseram que eu mostrei novas visões sobre as canções. Fiquei pensando nisso
ontem: eu, ao lado de muita gente que elogiou meus textos, todos anonimamente pelo
mesmo motivo. (Pra ficar legal)