segunda-feira, 17 de abril de 2017

Cowboy Bebop , um universo rico em qualidade

Já faz mais de anos que ouvi falar no anime Cowboy Bebop. Li esse nome pela primeira vez numa revista, em 2005, na extinta Ultra Jovem. Nessa época, a qualidade da revista era bem menor, vinha uma página de imagem e apenas um parágrafo sobre a obra. Mesmo assim, o parágrafo sempre me interessou. Porém, só agora, em 2017, é que criei coragem para ver esse excelente animê. Não me arrependi. Quero dizer, se há arrependimento, foi de ter demorado tanto para vê-lo.

Escrito por Keiko Nobumoto (conhecida por ter escrito o excelente Wolf’s Rain) e dirigido por Shinichiro Watanabe (também famoso por ter dirigido o ótimo Samurai Champloo), Cowboy Bebop é um anime de ação, ficção científica, drama e aventura. Sim, tudo isso. O estúdio responsável pela produção é o Sunrise, um grande nome, que também produziu o aclamado InuYasha (Rumiko Takahashi) e alguns animês menores (em fama, não em qualidade).


Pois bem, a história se passa no ano de 2071, uma época onde a tecnologia avançou bastante e é possível viajarmos para outros planetas facilmente. A Terra está desolada, por causa de um acidente num portal entre o nosso planeta e a Lua. Mesmo assim, ainda há algumas pessoas que vivem aqui, entre os meteoros que caem diariamente. Com isso, há muitas colônias e enormes cidades nos astros vizinhos, para os quais migramos.

Contudo, por o espaço ser vasto, a libertinagem aumentou demasiadamente, fazendo os crimes também aumentarem e os policiais não darem conta dos criminosos. Assim, são pagos prêmios como recompensa para os caçadores que conseguirem prender tais infratores. Bem ao estilo faroeste. Os personagens principais de Cowboy Bebop são uma turma desses especialistas em prender bandidos.

Os protagonistas são cinco: Spike Spiegel, um jovem habilidoso com naves e armas, que possui um passado obscuro e ainda aberto para se resolver; Jet Black, um ex-policial, o segundo mais velho do grupo — também não há muitas informações sobre o seu passado; Faye Valentine, embora tenha a aparência de uma jovem linda, é a mais velha do grupo, pois perdeu a memória num acidente há 50 anos, mas o seu corpo foi congelado e anos depois, revivido; Ed, uma criança nerd, capaz de hackear quase todo sistema de computador; e, por fim, Ein, um cachorro muito inteligente. Todos são tripulantes da nave Bebop. Porém, não se conhecem logo no primeiro episódio (exceto Spike e Jet), somente aos poucos, com o desenrolar da trama.


Como deu para perceber, os nomes não são orientais, mas, sim, ocidentais. Não só isso, o visual dos personagens e dos cenários também é americanizado. O animê possui apenas 26 episódios e um filme (produzido pelo estúdio Bones e distribuído pela Sony), no entanto, o conteúdo e as referências utilizadas são enormes.

A primeira delas é o nome dos episódios, quase todos relacionados à música e a bandas. Na ordem: 1 – Asteroid Blues (Blues é um gênero musical), 2 – Stray Dog Strut (um trocadilho com o título da música Stray Cat Strut, da banda Stray Cats), 3 – Honky Tonk Woman (nome de uma música dos Rolling Stones), 6 – Sympathy for the devil (idem), 7 – Heavy Metal Queen (Heavy Metal é um gênero musical), 10 – Ganymede Elegy (Elegia é um gênero musical), 11 – Toys in the Attic (nome de um álbum e de uma música do Aerosmith), 12 e 13 – Jupiter Jazz (Jazz é um gênero musical), 14 - Bohemian Rhapsody (título de uma música do Queen), 16 - Black Dog Serenade (Black Dog é uma música do Led Zeppelin), 17 – Mushroom Samba (Samba é um gênero musical), 19 – Wilde Horses (nome de uma música dos Rolling Stones), 21 – Boogie Woogie Feng Shui (Boogie Woogie é um gênero musical), 22 – Cowboy Funk (Funk é um gênero musical — e não é o brasileiro, não, hein?!), 23 – Brain Scratch (talvez seja referência à música Brain Damage, do Pink Floyd), 24 - Hard Luck Woman (título de uma música do KISS) e 25 e 26 – The Real Folk Blues (Folk é um gênero musical e Blues também). Além disso, o nome do filme é Knockin’ on Heaven’s Door, que também é o nome da famosa música do Bob Dylan.

Os nomes dos outros episódios também devem fazer referências a outros gêneros, artistas e músicas que não conheço. Afinal, não sou especialista em análises e nem conhecedor de tudo o que é arte.

Obviamente, toda obra-prima liga entre si o conteúdo e a forma, por isso, não basta ter nomes de músicas relacionadas ao Rock, ao Blues e ao Jazz, mas é preciso conter esses elementos dentro da obra. É o que acontece com Cowboy Bebop, um anime com uma das melhores soundtracks que eu já assisti e ouvi. É claro que essa sonoridade é para nos remeter aos filmes de cowboys do velho oeste, embora o contexto da história se passe no futuro e no sistema solar (a forma é diferente, mas a ação é a mesma: perseguição de foras-da-lei).

O anime também faz referências — implícitas e explícitas — a alguns filmes antigos, a outras músicas (além daquelas que nomeiam os episódios), a livros, a contos e a escritores. Há um momento, por exemplo, em que todos os personagens comem cogumelos e têm alucinações. Spike sobe uma escada infinita quando, de repente, aparece um sapo que diz que aquilo é uma escada para o céu. “Escada para o céu” é “Stairway to heaven” em inglês, título de uma música do Led Zeppelin. Na mesma sessão (que é como os capítulos são chamados em Cowboy Bebop), há um muro escrito “Mobi Dik”, que faz referência ao livro Moby Dick, do escritor Herman Melville. Obviamente, aliado ao conteúdo do livro de Mellville, o cenário se passa num local onde há peixes (como podemos notar escrito no muro ao lado esquerdo e acima do “Mobi Dik”: Pescaderia).

("Pescaderia Mobi Dik")

Em outro episódio, Spike está lendo um livro chamado Walking on the moon (que também é uma música da banda The Police). Já em outra passagem, Jet Black cita o escritor alemão Goethe. E essas são apenas algumas das intertextualidades que notei. Com certeza, há muito mais.


Coincidência ou não, há um personagem no segundo episódio de Cowboy Bebop que nos lembra muito o Leorio, do animê Hunter X Hunter (de Yoshihiro Togashi), embora este último tenha sido exibido um ano mais tarde, em 1999. O que muda é que Leorio é um dos protagonistas de HxH, enquanto o personagem de Cowboy Bebop é apenas mais um. Porém, é interessante a semelhança entre ambos: os dois carregam maletas, usam óculos, são atrapalhados e aparecem pela primeira vez (no caso do personagem de Cowboy Bebop, pela única vez) em episódios que há animais.



(O de laranja é personagem de Cowboy Bebop, o de azul, o Leorio)


Também é curioso notarmos o uso de locais reais do nosso sistema solar, embora desconhecidos por muita gente. Ganímedes e Europa, por exemplo, que são realmente satélites naturais de Júpiter, no anime são cidades.

Deixando de lado essas influências, o que eu mais gostei na obra, além das batalhas, do visual e da comicidade, foi a coerência simbólica dentro dos próprios episódios. Na sessão 5, Ballad of fallen angels, temos um pouco da explicação do primeiro capítulo e da vida passada de Spike Spiegel. Conhecemos o seu antigo amigo (e agora inimigo) Vicious. Os próprios nomes são simbólicos. Vejamos.

Na primeira vez que Spike aparece, relembra momentos entre tiros e flores. As flores remetem-nos à morte. O que é que Spike sempre diz? Que já morreu uma vez. Ele sempre se lembra da sua amada Julia, que depois conhecemos e percebemos que ela mesma é comparada a uma flor, de tão linda e aparentemente delicada. Spike, como seu nome diz, é o cravo.

O passado e o presente de Julia, Spike e Vicious estão ligados. Vicious, como o próprio nome sugere, é o mal da história, o que se rebelou contra o próprio sistema (a que chamam de Sindicato) e traiu todas as pessoas próximas. De cabelo cinza (o que pode nos remeter à frieza de sua personalidade) e sempre acompanhado por corvos (que também podem significar a morte), Vicious utiliza-se de uma espada como arma. Diferente de Spike, que só usa armas de fogo.

É interessante notarmos que nesses episódios 5 e 6 há muitas cartas de Ás de Espada. Primeiramente, o jogo de cartas é considerado por muitos como um vício (assim, alia-se ao personagem Vicious). Em segundo lugar, diz-se que a carta possui muitos significados, que foram mudando ao longo do tempo, porém, ainda assim, o Ás de Espada está relacionado aos conflitos, à morte e às perdas. Então, lembremos: Spike já foi considerado morto, Vicious usa uma espada (e está sempre com um corvo por perto), um deseja matar o outro e a carta pode significar o corte da relação entre ambos.

Não só isso: o episódio chama-se Ballad of fallen angels, isto é, a balada dos anjos caídos. Os dois personagens não são mais o que costumavam ser, ambos lutam dentro de uma igreja, que, por sua vez, traz-nos a história bíblica da criação e da traição (vício) de Lúcifer, o anjo caído. No entanto, ironicamente, quem cai do vitral é o Spike... No final, causada por Faye Valentine, temos uma queda de plumas brancas sobre Spike, o que nos lembra penas de anjos... E que também nos lembra a queda das pétalas de rosas jogadas por Júlia, no passado. Além da chuva, que houve no pretérito, que há agora e que pode significar mudança, purificação ou um ciclo.

Nesse mesmo episódio, por Spike ter ido resolver seus assuntos pessoais sozinho, Jet fica com raiva; e quando Faye pede ajuda para salvar Spiegel, Jet, que estava aparando os galhos de um bonsai (pequena árvore oriental), acaba cortando um galho e nega a ajuda. Depois, muda de ideia e vai atrás do amigo. Esse corte do galho, ocasionado sem querer, pode significar o quase rompimento da amizade entre os dois: negar ajuda é cortar um galho da árvore que dentro da nave todos são. Coerência extrema.

Outro capítulo simbólico é o 18, “Fale como uma criança”, o qual é iniciado com Jet narrando um conto oriental à criança Ed. O conto traz a história de um pescador que não envelheceu (ao mesmo tempo, Spike está pescando ao lado de Jet e Ed...). Em seguida, recebem uma fita cassete (não se sabe de quem) endereçada à Faye Valentine. Porém não existem mais fitas, muito menos os aparelhos para reproduzi-las. Agora tudo é gravado em CDs (os tripulantes da Bebop nem sonhavam com as nossas atuais nuvens)! Assim, partem para o único lugar tão atrasado que pode possuir um aparelho desses: a Terra!

Ao conseguirem-no, veem que é uma mensagem gravada há anos... Incrivelmente, pela Faye e suas amigas (hoje, todas idosas)! Uma mensagem destinada a elas mesmas, porém, anos depois. Contudo, como foi dito no início do texto, Faye perdeu a sua memória e não se lembra de nada... É muito triste ver que algumas pessoas perderam as suas memórias e, assim, a sua identidade. Uma Faye adulta sem conseguir reconhecer ou se lembrar da Faye adolescente, das amigas, de ninguém... Há disso na vida real também. Capítulo bem coeso.

Sobre o episódio 23, Scratch Cerebro, deixo apenas essas palavras: “Eles estão apenas praticando um ato de fé que eles decidiram crer. Por que você acha que as pessoas acreditam em Deus? É porque elas querem. Não é fácil viver neste mundo podre, não há nada certo enquanto se vive neste mundo (...) Deus não criou os humanos. Os humanos criaram Deus. (...) Você sabe qual é a melhor e a pior criação do ser humano? Televisão. A televisão controla as pessoas usando informação e rouba os seus sensos de realidade. Sim, agora a televisão é uma religião por si só. A TV criou pessoas que são facilmente enganadas por fantasias idiotas”.

Outra sessão muito bem entrelaçada é a 24, Hard Luck Woman. Nele, Faye recupera parte da memória e vai atrás de onde ela pensa que pertence. Por sua vez, Ed encontra o seu pai na Terra. O trabalho dele é fazer mapas. Interessante ligação: enquanto um faz mapas, a filha acha o pai e Faye procura o seu lugar no mundo. Ora, o mapa é um instrumento de localização. Ao mesmo tempo, o pai de Ed dá ovos a Jet e a Spike. Claro, os ovos são o princípio da vida, que nos remete à família recém encontrada e à mulher que procura o seu passado para entender o seu presente. Aliás, esse episódio anuncia o final do curto anime, que é o Spike resolvendo as suas pendências com Júlia e Vicious.

Não comentarei sobre o que acontece nesses dois episódios finais, somente sobre a criação de um cenário que achei muito interessante. Num dos momentos, Spike e Jet conversam e o segundo comenta sobre um conto em que um gato morre e revive um milhão de vezes, um gato que não tinha medo de morrer (podemos associar à própria imagem do protagonista), mas que um dia se libertou desse ciclo.

Agora, o curioso é que “a câmera” mostra os dois embaixo de um ventilador que gira (observemos o ciclo — tal como o da história narrada por Jet — aqui também) em sentido anti-horário: assim como Spike fala de seu passado (não do futuro). No final do conto, ele dá uma resposta inusitada a Jet, assim como a história caminha para um curso, mas, igualmente ao ventilador, Spike vai ao contrário do que nós e Jet estávamos pensando. Muito criativo.

(Câmera mostrando Jet e Spike embaixo de um ventilador que gira em sentido anti-horário)

Sobre o filme, Knockin’ on Heaven’s Doors, de 2001, há um homem (Vincent Volaju) que foi cobaia de testes de medicina e deseja se vingar de todos, passando a doença a qual ele é imune para toda a população. Doença essa que está ligada à nanotecnologia. Claro, a tripulação da Bebop encarregar-se-á do caso. 

Os traços do filme são superiores aos da animação (até porque o longa foi feito três anos depois e por um estúdio melhor, que é o Bones) e a trilha sonora continua impecável. Falta um pouco (só um pouco) de Jazz e Blues, mas que são compensados pelos corais (que combinam com as palavras ditas pelo antagonista: céu, inferno, purgatório, Halloween etc).

Também é interessante notarmos que uma das ruas que Spike passa ao lado chama-se La Fontaine. La Fontaine, sabemos, foi um grande e importante fabulista do século XVII. Além disso, há a citação de feijões por alguns vendedores que parecem árabes (porém, esses personagens, com certeza, são para serem relacionados a terroristas... — Vincent é considerado um terrorista — Olhemos a ideologia aqui...). Embora a história de João e o pé de feijão seja inglesa e tenha ficado famosa a partir do século XVIII e XIX, os orientais foram grandes fabulistas também. E o pé de feijão levava ao céu, lugar ao qual o antagonista deseja ir (e o próprio nome do filme nos remete a isso: Batendo na porta do céu — Knockin’ on Heaven’s Door). Filme muito bem feito. Também há a metáfora das borboletas, mas que deixarei para quem for atrás...

(La Fontaine e um comercial da Coca-Cola)

Em suma, é isso. Um animê obrigatório para todos os apreciadores de animações japonesas, um clássico repleto de referências a diversas artes e culturas (mas principalmente à americana); muito bem elaborado, tanto em imagem quanto em conteúdo, cheio de sublimes reflexões sobre a liberdade, a solidão, o sentimento de pertencimento, o existencialismo etc. Os personagens são carismáticos (exceto a Ed, que chega a ser irritante, às vezes... — porém, não devemos nos esquecer que ela é apenas uma criança, logo, normal) e não estereotipados. Além disso, é preciso ressaltar a presença de muitos personagens negros nas diversas posições, não só como foragidos, mas como médicos, advogados, apresentadores de TV, policiais etc., o que não é comum no universo dos animês. Tudo acompanhado sempre de muita ação, lutas e momentos cômicos. E, claro, uma das melhores trilhas sonoras de todos os animês, muito Blues e Jazz (e Heavy Metal em um dos episódios). 



(Abertura de Cowboy Bebop)

Obviamente, não comentei sobre todos os episódios e nem sobre todo o conteúdo dos capítulos que escolhi falar (sou apenas um apreciador de animês, não um crítico e especialista — muito menos um caçador de easter-eggs!). É uma obra que deve ser vista muito mais vezes para a entendermos melhor, então, assim que puderem, vejam-na. 

 See you in space, cowboy!

sábado, 15 de abril de 2017

Relato pessoal: muros e pontes

Há pessoas que são muros e há outras que são pontes — em diversos sentidos.

Em dezembro de 2006, no finzinho da sexta série, o meu melhor amigo foi embora para a Bahia, pois os pais dele são de lá e queriam morar na cidade natal (na verdade, a cidade natal do pai...). Continuamos a nos falar pela internet, embora, no começo, para isso, eu tivesse que ir para as lan houses (muitos jovens nem sabem o que é ou o que foi isso). Só alguns anos depois, em 2008, é que fui ter um computador e uma internet própria (do tipo discada!).

Com essa falta, aproximei-me de outras pessoas, tive novas, boas e ruins experiências. Foi durante essas más relações que notei que existem pessoas-muro, pessoas fechadas em si e que tentam fechar o outro também. Para elas, se somos amigos, até podemos ser amigos dos seus amigos, mas não podemos levar os nossos próprios para este novo círculo. Isso acontece frequentemente em relações amorosas (o que nunca foi o meu caso).

E sobre os muros, há os fortes e os fracos. Estes, feitos de vidro, qualquer coisa é capaz de quebrá-los. Não precisa ser uma pedrada, basta uma palavra ou um olhar. São ultrassensíveis. Devemos ter cuidado com essas pessoas, mas nem por isso devemos deixá-las sozinhas, dentro de suas muralhas. Aproveitando-nos da característica do vidro, a transparência, podemos aparecer em sua frente e acenarmos, para que possam nos ver e verem que há pessoas ao seu redor. A não ser que, por dentro, o dono tenha colocado cortinas escuras, para também não ver ninguém...

Por outro lado, há as pessoas-ponte, que foi o que imaginei quando o meu amigo voltou para São Paulo, neste mês de abril, para passar umas férias. Vieram ele e o irmão.

É que ele foi embora há 11 anos, mas a história dele comigo e com a turma não acabou ali, continuou sendo escrita, por outros meios, mas continuou, tijolo por tijolo. Ainda não está acabada, mas não está parada: está em construção.

Não foi a primeira vez que ele veio passar umas férias aqui, mas cada vez que vem, conhece mais pessoas do nosso círculo (cada vez mais expandido), além de, unicamente pela sua presença, reunirmos parte da turma que estudou junto na 5° e 6° série A, nos anos de 2005 e 2006, na escola Di Cavalcanti. Hoje, todos com suas vidas distanciadas, mas que se juntam para relembrar histórias, narrar a continuidade etc.

Acho isso fantástico: pessoas que são pontes entre outras pessoas, entre histórias, entre lacunas no e do tempo, entre algumas relações que, por causa das novas situações cotidianas, vão se perdendo... E, claro, por serem pontes, levam-nos à frente, permitem-nos caminhar e crescer enquanto elas também crescem.

Com essa vinda do meu amigo, fiquei mais próximo do seu irmão, que era bem pequeno quando foi embora (lembro até hoje...), retomei laços com outros amigos que há tempos não os via, relembrei histórias que não recordava (e isso porque eu já tenho uma ótima memória!), rememorei bons momentos que os colegas haviam esquecido, visitei lugares que nunca havia ido, conheci e ri com seus amigos (que não eram meus), passamos momentos com outros meus (que não eram da época dele) etc.

Enfim, penso ter havido um crescimento e fortalecimento mútuo. Às vezes, precisamos dessas visitas para que possamos caminhar um pouco mais e melhor.

Ao meu jeito, tento criar pontes entre as pessoas através das palavras (o escritor é um construtor de pontes, de experiências e de sentidos múltiplos). Ao menos como lembrança e agradecimento. 

Que esse texto seja mais um bloco na construção de nossa amizade.

Humildemente,
Um amigo e futuro escritor.