Não é
muito raro encontrar pessoas que pregam a bondade e o amor, quando, na
realidade, esperam somente reciprocidade. Vemos isso frequentemente: alguma
pessoa sente atração ou simpatia por nós, não apenas sente como também
demonstra. Essa demonstração acontece por meio de presentes ou presença — e é
sempre dito que é pelo nosso ser, que
não deseja nada em troca a não ser que continuemos a sermos como somos.
Mas
percebe-se que isso geralmente acontece quando se está em um início de relação,
e que esse começo sempre vem carregado de entusiasmos de primeiro momento.
Deve-se pensar, também, que não passamos 24 horas junto da pessoa; e que quando
nos vemos, é quase sempre no mesmo horário e local. Quero dizer que, em cada
local, horário e situação, agimos de maneira específica: quando alguém diz nos
admirar pelo o que somos, não é pelo o que somos integralmente, e sim naquelas
ocasiões e circunstâncias que nos conhecemos.
Ora, isso
é óbvio e não é problema nosso; o problema surge quando o indivíduo passa a nos
superestimar pelo aquilo que ele conhece. Aí, assim que começa a nos conhecer
de verdade (muita vezes sufocando), não vê mais aquela pessoa de outrora.
Dependendo
da pessoa, acredita até mesmo que o seu olhar está diferente, mas não é só o
olhar, é a visão também. Isso porque
não nos vê mais como "éramos", mas (que ironia) como somos. A bondade
pregada muda por uma reciprocidade não recebida — ou percebida —, e não é só
isso: culpa-nos por termos mudado, culpa-nos pela visão distorcida que criou.
Atualmente,
em redes sociais, vemos muitas pessoas utilizando-se de frases
"filosóficas, literárias e aleatórias" (fora de contexto) para
mostrar (muitas vezes, fingindo) como se sentem, no caso: desiludidas — como se
a ilusão fosse algo ruim; ruim é a realidade —, traídas e desapontadas.
Tratando-se como vítimas e coitadas (moral dos fracos, segundo Nietzsche); tudo
isso nada mais é do que o fruto de uma projeção do eu no outro, criada pela imaginação e vontade/desejo.