sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Uma carta para leitores

Caro leitor,

"Lê-me, que o poema irás amar" - Charles Baudelaire.

Às vezes, comparamos pessoas a livros; às vezes, até creio que nos parecemos. Ontem, me disseram que tenho poucas companhias, porque sou um livro fechado. Ora, mas a culpa nunca é dos livros, pois nenhum deles se abre sozinho. É preciso que alguém tenha vontade, capacidade e coragem para abri-lo.

Acontece, às vezes, de alguns serem julgados pela capa. Porém, há pessoas abertas ao mundo, mas que ninguém nem passa os olhos pelas suas páginas. Ninguém possui tempo ou curiosidade pela história que está ali.

Não adjetivo nenhuma pessoa como um livro aberto ou fechado, apenas como livros. Há tantos exemplares disponíveis, com histórias fantásticas, formas e conteúdo. Nenhum é igual ao outro, cada um é o seu próprio autor. Livros que se escrevem — escrevem em si.

É uma pena que poucas pessoas saibam ler. O erro de quem me culpou por ser sozinho e me chamou de livro fechado é que, mesmo se todos fôssemos livros abertos, tudo depende da capacidade do leitor. Mesmo que aberto e à luz do dia, é preciso saber ler o que está por trás.

Há leitores que desconhecem e desconsideram o contexto, que não conseguem reconhecer e grifar as partes mais importantes e rechaçar as desnecessárias. Mas há os profundos e sensíveis, que a cada leitura percebem partes que mesmo o autor desconhece. São esses que enriquecem as obras mais ainda.

Há gente que lê, mas que não sabe interpretar, que não consegue se pôr no lugar do outro. Não temos letras nem pontos, mas temos olhares, gestos, respirações, pensamentos, sentimentos e vontades. O melhor de nós está implícito, porém há poucos letrados.

Obrigado por ler até o final  (ao menos desta única página).

Ass.: Um autor desconhecido, de um livro que ainda está sendo escrito e que não será — nem pretende ser — best-seller